Notas iniciais: Capítulo está morno, mas mantenham a calma! O oito promete fortes emoções!
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Gabriela, acorda filha! Está na hora!
Abri
os olhos lentamente, tentando me localizar. Instantaneamente meu corpo começou
a reclamar pela noite mal dormida. Resmunguei baixo. Músculos doloridos e
ensaio eram dois termos que não combinavam na mesma frase.
-
Vamos, menina! Hoje é um dia especial, lembra? – minha mãe chamou de novo –
Estou preparando um café caprichado para você! Não demora!
As
palavras dela me fizeram despertar. Naquele sábado aconteceria o ensaio geral
da peça, com direito a teste com luzes, figurino, cabelo... A orquestra já vinha
participando dos ensaios normais, mas aquele sábado também seria especial para
eles. Até onde eu sabia, o maestro aproveitaria a ocasião para acertar os
últimos detalhes com os músicos antes da apresentação.
Porém,
eu passei a última semana tão concentrada nos ensaios, dieta e tentando não
pensar no Edu que acabei me esquecendo completamente desse “pequeno” detalhe… A
única coisa que me confortava era o fato que o ensaio seria leve, mais focado
nos aspectos estéticos e funcionais do que nos passos de dança em si. Comparado
com a última semana de treinos, seria brincadeira de criança. E o melhor: eu
teria o resto da tarde e o domingo inteiro para descansar.
Animada
com a ideia de finalmente repousar, levantei e fui até o banheiro. Foi aí que
dei de cara com as roupas que usei na noite anterior jogadas de qualquer jeito
sobre a pia. Lembranças do meu momento com o Edu me assaltaram a mente e sorri
sozinha. No meio da confusão de ensaios, a noite passada parecia um sonho.
Tirei
o pijama e entrei no banho, deixando meu pensamentos fluírem como a água que
caía. Ficamos juntos até quase duas da manhã, quando praticamente dormi apoiada
no seu ombro de tão cansada. Depois da dança ficamos conversando, eu contando
sobre a minha rotina puxada de bailarina, ele sobre como era difícil mudar de
cidade pela terceira vez em três anos e da saudade que já sentia do mar. Ele me
abraçou e eu acariciei seus cabelos enquanto falamos de nossas vidas de maneira
natural. Poder ser eu mesma foi uma sensação libertadora. Foi ótimo não
precisar me preocupar com o que os outros iriam pensar ou se seria julgada por
ensaiar demais, por comer de menos, por não me dedicar suficiente aos ensaios e
tantas outras coisas...
Precisei
me apressar depois que desliguei o chuveiro. Passei tanto tempo “sonhando”
acordada que estava atrasada. Vesti a primeira roupa que vi pela frente, peguei
meu celular e desci para tomar o café. No caminho, chequei meu WatsApp. Sorri
sozinha ao ver uma mensagem de um número que ainda não constava na minha
agenda. Mesmo sem a foto e sem assinatura, eu sabia quem havia escrito aquela
frase.
“Espero
que você tenha conseguido dormir e não ter atrapalhado os seus ensaios. Acho
que mais uma vez acabei sendo precipitado, mesmo que o objetivo não fosse esse.
Mas, sem dúvida ontem foi a minha noite de sorte”.
Fiquei
encarando a tela do celular, sem saber o que responder. Meu coração dava
piruetas dentro do peito. Todo o cansaço por conta da noite mal dormida e as
dúvidas que me atormentaram durante a festa pareceram desaparecer. Só o que
restava era aquela vontade boba de sorrir e dançar, ao mesmo tempo que
cantarolava a música da noite anterior.
-
Nossa, quanta alegria! – minha mãe exclamou quando me sentei à mesa. Como
prometera, meu café já estava pronto e caprichado: iogurte desnatado com cereal
e frutas picadas, suco natural de laranja e biscoitos integrais. Tudo muito
saudável, claro! – Esse sorriso enorme tem a ver com o rapaz que ficou
conversando com você até tarde aqui na frente?
Quase
engasguei com o suco. Pensei que minha mãe não tinha percebido a movimentação
já que não me pediu para entrar. Eu estava certa que, assim que soubesse que eu
não estava na cama mesmo tendo ensaio no dia seguinte, ela desceria como uma
louca e mandaria o Edu embora na base das vassouradas. Será que o coração de
dona Beatriz estava amolecendo?
-
Não precisa ficar vermelha desse jeito! – ela riu e eu, claro, fiquei com ainda
mais vergonha. Qual parte da nossa conversa ela havia flagrado? Tudo o que eu
não precisava naquele momento era da minha mãe palpitando sobre os passos de
dança do carioca – É bom estar apaixonada, filha! – completou antes de se
servir de iogurte e cereal – Mas só tome cuidado! Você tem a apresentação
semana que vem, a sua carreira como bailarina, e... – sua voz vacilou – quando
somos jovens, tudo parece intenso e eterno. E às vezes não é bem assim...
Continuei
tomando meu suco sem ter coragem de encará-la. O sorriso no meu rosto foi
substituído por uma expressão de receio. Eu sabia que o sonho da minha mãe era
ser bailarina profissional. E ela quase conseguiu. Aos 18 anos, era a melhor
aluna da Escola de Dança do Teatro Guaíra em Curitiba e se apresentava junto
com a companhia de dança da escola. Pelas fotos que vi, dona Beatriz era uma
excelente bailarina. Ela parecia flutuar no palco, leve como uma pluma ao mesmo
tempo que executava os movimentos com firmeza e precisão. Era a combinação
perfeita de força com delicadeza.
Depois
de terminar o colégio, ela estava decidida a seguir carreira na dança. Mas
nesse meio tempo, veio até São José dos Campos, cidade próxima de onde moramos,
para visitar parentes durante as férias. Foi nessa viagem que ela conheceu meu
pai. Na época, ele era só um estudante de Economia com muitos sonhos e
vontades. Como era muito bonito, minha mãe ficou “caidinha” por ele logo de
cara. Os dois viveram um amor de verão que chegou ao fim quando ela voltou para
Curitiba. Tudo ia muito bem até que, dois meses depois, ela desmaiou em um
ensaio. Foi assim que descobriu que estava grávida de mim. Minha avó não gostou
da ideia e a expulsou de casa. Sem ter para onde ir, minha mãe voltou para
Guararema e reencontrou meu pai. Os dois passaram a morar junto, os parentes
que moravam nas proximidades apoiando minha mãe nos assuntos relacionados à
gravidez. Poucos meses depois do meu nascimento, meu pai recebeu um convite
para trabalhar no mercado de ações em Nova York. Como era o seu maior sonho,
ele foi, deixando minha mãe sozinha com uma criança pequena para cuidar.
Os
parentes continuaram ajudando e foi assim que ela conseguiu me criar e abrir a
sua própria escola de dança. Claro que ela nunca perdoou meu pai e, por isso,
nossa relação era bem estranha. Minha mãe quase não falava do assunto e me
proibiu de manter um contato mais íntimo com ele. Eu só sabia de tudo aquilo
porque uma das minhas tias que morava em São José me contou. Dona Beatriz
evitava ao máximo falar do meu pai. E quando o fazia, era sempre com um pouco
de raiva e mágoa.
Terminei
meu café em silêncio, dezenas de perguntas surgindo na minha mente. Minha mãe
seria uma pessoa diferente se meu pai não tivesse a abandonado? Será que eu
dançaria balé se ela mesma não precisasse interromper a carreira para cuidar de
mim? O quanto um coração machucado pode interferir na vida das pessoas, afinal?
-
Gabriela, vamos nos atrasar! Vai escovar os dentes que te espero no carro –
dona Beatriz deve ter percebido os meus devaneios, porque tratou de estalar os
dedos na minha frente chamando a minha atenção. Subi correndo as escadas para
escovar os dentes e terminar de me arrumar. Menos de dez minutos depois já
estávamos a caminho do teatro.
Checando
novamente meu celular, lembrei que ainda não havia enviado uma resposta para o
Edu. Pensei em mil coisas para escrever e, de fato, cheguei a digitar um monte
de frases. Minha sorte é que, pelo horário, ele ainda deveria estar dormindo.
Caso contrário, acharia que eu estava louca se olhasse o Whats e visse um
“digitando eterno” na minha janela sem aparecer nenhuma mensagem depois.
Minha
mãe já estava estacionando o carro e eu ainda não havia decidido o que
responder. Não queria parecer “apaixonadinha” ou precipitada demais, por causa
do que a Mari falara durante a festa. Mas também não queria parecer fria ou
distante, como se não estivesse nem aí para ele...
“Senhor,
quando vão inventar um app para ajudar em casos como esse? Tanta tecnologia e
nenhum cientista foi capaz de criar algo para nos ajudar a encontrar as
respostas certas para o boy que se está a fim?”, xinguei mentalmente, mesmo que
soubesse que o meu desejo era algo completamente sem sentido. Mas qualquer
ajuda naquele momento seria muito bem-vinda.
Por
fim, acabei digitando um “Por que diz isso?” e largando o celular do lado. O
ensaio iria começar e eu tinha um longo dia pela frente...
***
Era
impossível olhar ao redor e não se impressionar. Estávamos ensaiando a parte da
baile, quando Romeu e Julieta se conhecem. No palco, mais de duas dúzias de
bailarinos executavam a coreografia ao som da orquestra. Todos os movimentos
eram sincronizados de acordo com a música e os passos eram executados na mais
perfeita sintonia, como se todos estivessem programados para se mexerem ao
mesmo tempo. Os figurinos, inspirados na Roma antiga, era composto por saias
longas e muitos babados e bordados. Ora tinham cores fortes e marcantes, ora
tons delicados, de acordo com o ar romântico da peça.
Era
inevitável sentir orgulho da minha mãe. Há um ano, nada daquilo existia. Ela
começou tudo do zero, empolgada com a ideia de montar um espetáculo grandioso
para comemorar os sete anos de Festival e a estreia do Teatro Municipal. Com o
apoio da Prefeitura e de empresas privadas da região, surgiu verba suficiente
para contratar profissionais qualificados que poderiam ajudá-la a criar algo a
altura da ocasião. Foi aí que surgiu a ideia de recriar um balé de repertório.
Sem dúvidas, um grande desafio por conta da complexidade. Espetáculos desse
tipo existiam há muitos e muitos anos e faziam parte da história da dança
clássica mundial. Isso exigia que a coreografia original fosse mantida, sofrendo o mínimo de alteração possível. Além
disso, pediam uma produção de primeira.
Para
minha mãe, essa era chance de trazer prestígio e credibilidade à sua companhia
de dança, composta em sua maioria por alunos da sua própria escola. Para o
balé, porém, muitas audições foram realizadas em busca de bailarinos para
compor o restante do elenco. No total, mais de uma centena de pessoas estavam
envolvidas na “peça”. Claro que essa denominação não era correta, mas foi assim
que ficou conhecida por toda a cidade. Todos esperavam o nosso balé com muita
expectativa. Seria um marco para a cidade e, se desse certo, levaria o Festival
a outro patamar.
Muita
coisa estava em jogo, mas minha mãe e sua equipe pareciam ter tudo sobre o mais
completo controle. Pelo menos, até aquele momento, o ensaio geral não havia
apresentado nenhum problema grave. Dona Beatriz comandava a tudo com mãos de
ferro e olhos de águia, não deixando passar nenhum detalhe.
***
Após
quase cinco horas e meia de ensaio, enfim a equipe foi liberada. Era quase hora
do almoço e meu estômago protestava em alto e bom som pedindo por comida.
Embora não tivesse dormido e o ensaio tivesse se estendido por mais tempo do
que esperado, eu não me sentia cansada. Ver os figurinos, as maquiagem e as
luzes em ação injetaram um novo ânimo em mim. Se antes estava receosa e até com
um pouco de medo, agora eu me sentia ansiosa. Queria encenar logo o balé,
mostrar para todos a competência da nossa equipe, provar o resultado de todo o
nosso esforço.
Nos
bastidores todos pareciam dividir a mesma sensação. Os sorrisos mostravam que o
pessoal se sentia pronto e confiante. Um clima de otimismo pairava no ar quando
deixei o teatro ao lado da minha mãe. Dona Beatriz andava como o peito inflado
e os olhos brilhando de orgulho. Mesmo satisfeita, ela não dava o braço a
torcer. Disse a todos que no geral o ensaio fora bom, mas que durante a semana
trabalharia erros pontuais na coreografia.
Assim
que entrei no carro, peguei meu celular. Era claro que estava ansiosa por uma
resposta do Edu e ele não me decepcionou.
“Porque
eu te encontrei”.
Senti
meu coração dar um mortal dentro do peito. Uaaauu! O garoto estava inspirado!
“Hum...
Que ótimo! Porque eu também me senti uma garota muito sortuda ontem. Só espero
que o destino coloque toda essa sorte no meu caminho mais uma vez”.
Deixei
todos os meus receios de lado e resolvi falar logo o que sentia. Afinal, se ele
estava se mostrando tão “interessado” acho que não haveria problemas em
demonstrar as minhas intenções, não é mesmo? Aproveitei o momento de coragem e,
na sequência, perguntei o que ele quis dizer com “ser precipitado mais uma
vez”.
Passei
os cinco minutos seguintes olhando para a tela do celular. Pelo canto do olho
eu via minha mãe me espionando, na certa querendo saber o motivo de tanta
ansiedade.
Quando
estávamos quase chegando em casa, uma única frase apareceu: “Com certeza vai
colocar”.
Fiquei
esperando algo sobre a segunda questão, mas ele não enviou mais nada. Entrei em
casa, sentindo a irritação que o Edu sempre conseguia despertar em mim dar o ar
da graça. Jogando o corpo sobre a cama de qualquer jeito, digitei a primeira
coisa que me veio a mente. Se ele não queria conversar como uma pessoa
civilizada eu também não iria facilitar.
“E
como você sabe?”
Mal pisquei, e o som indicando nova mensagem
apitou.
“Porque
se não colocar, eu mesmo cuidarei para que isso aconteça”.
Ok,
se o objetivo era me impressionar, ele estava conseguindo. Rolei na cama,
deitando de bruços e apoiando o cotovelo no colchão. E agora? Deveria manter a
mesma linha de “ataque”?
“Então
você é do tipo de garoto que faz acontecer?”
Resolvi
mudar o rumo da conversa para ganhar tempo. Eu precisava respirar e assimilar
melhor a situação.
Não.
Sou do tipo perigoso”.
A
mensagem chegou logo na sequência, fazendo meu queixo cair. O que ele queria
dizer com aquilo? Seguindo a mesma estratégia, dei uma resposta evasiva. Eu
precisava dar um jeito de tirá-lo dessa posição de mistério, fazer com que
revelasse mais sobre o que estava pensando.
“Perigoso
do tipo que machuca mocinhas indefesas?”
Torci
para que dissesse que era tudo uma brincadeira, que na verdade apenas tinha
curtido ficar comigo. Talvez até que tínhamos alguma chance de dar certo...
Sorri com a perspetiva. Seria cedo demais para pensar nisso?
O
celular apitou na minha mão e voltei a me concentrar na tela, ansiosa pela
resposta.
“Não.
Perigoso do tipo que consegue tudo o que quer”.
Um
arrepio percorreu o meu corpo. Novamente senti medo do que o Edu seria capaz de
fazer comigo. Era como se tanto mistério e histórias mal contadas acendessem um
sinal de alerta na minha mente. Mas já era tarde demais para resistir. Eu já
havia provado do doce “veneno” e cada parte de mim pedia por mais.
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Notas finais: Edu e seus mistérios....
*** Bora para o próximo capítulo? Então clique aqui
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Oiieeee.... xD
Espero que esteja curtindo a fic!
Se estiver, não deixe de "perder uns minutinhos" para me contar a sua opinião, registrar o seu surto ou apenas para dar um oi! E se não estiver curtindo, aproveite o espaço para "soltar o verbo" e falar o que te desagradou!
Uma história não existe sem leitores! São vocês que me dão forças para continuar escrevendo e caprichando cada vez mais em cada capítulo! Portanto, deixe de "corpo mole" e venha "prosear" sobre as fics comigo e com as outras meninas que passam por aqui! *-*
Cada comentário ilumina muito o meu dia! Não deixe de fazer uma quase-escritora feliz: Comente! *-*
E não esqueça de deixar o seu nome, ok?!