quinta-feira, 2 de julho de 2015

Capítulo 14 – Quarta-feira de cinzas – Parte I

Notas iniciais: Ok, não me matem! Sei que demorei, mas é que estou fazendo um curso à noite e está corrido no trabalho. Aí fica difícil dar conta de tudo. Mas cá estou eu para postar! =)
É o seguinte: precisei dividir o cap em dois. A primeira parte está mais morna, mas a segunda estará bem tensa! Espero que gostem!
__________________________

Abri a porta de casa com o máximo cuidado e subi as escadas na ponta dos pés. Eu estava tão feliz que assim que entrei no quarto corri para o banheiro – literalmente. Fechei a porta, coloquei uma música animada para tocar no celular e entrei no chuveiro dançando como se fosse uma criança.

Apesar do meu corpo estar um pouco dolorido, eu me sentia ótima. Lavei os cabelos - que estavam muito embaraçados – e depois de ter terminado, fiquei embaixo da água morna relembrando cada momento da noite como se fosse um filme que eu não cansava de ver e rever.

Minha empolgação era tanta que não conseguia dormir. Então sequei os cabelos, vesti a roupa que usaria naquela manhã – shorts jeans, blusa soltinha e bota de cano baixo – fiz uma maquiagem básica e acrescentei os itens que ainda faltavam na minha mala. Um sorriso bobo teimava em permanecer nos meus lábios e vez ou outra eu me pegava parada, olhando para o vazio, sentindo a alegria dominar cada parte de mim. Eu nunca tinha usado drogas, mas imaginava que era assim que as pessoas se sentiam quando experimentavam alguma. A sensação era inebriante.

Era quase sete da manhã quando deitei para dormir um pouco, a camisa cinza do Edu perto do rosto para que pudesse sentir o seu cheiro. Cochilei pouco mais de uma hora até que minha mãe apareceu no meu quarto.
- Booom dia, bela adormecida! Quero nem saber se você chegou tarde ontem da casa da Carol. Está na hora de acordar, senão perderemos o voo – ela gritou da porta, me fazendo dar um pulo tamanho o susto que tomei.

- Ué, você já está pronta? – dona Beatriz estranhou.

- Sim! Cheguei, tomei banho e já vesti a roupa que vou para o aeroporto – expliquei entre um bocejo e outro – Assim fica mais fácil. Agora é só passar um gloss, calçar os sapatos e pronto! – me espreguicei antes de terminar a frase – Você não ouviu o barulho do secador hoje de manhã? – estava certa que ela me mataria por perturbá-la logo com cedo com tanta bagunça.

- Pior que não! Estava tão ansiosa com a viagem que precisei tomar um calmante para conseguir dormir. Queria ter acordado mais cedo hoje, mas acabei perdendo a hora. O jeito agora é correr – ela se explicou, coçando os olhos ainda meio sonolenta.

Respirei aliviada. Se minha mãe não acordou nem com o barulho do secador, as chances dela ter me ouvido chegando com o dia amanhecendo eram quase nulas. Definitivamente, aquela fora a minha noite de sorte.

- O que é isso? – ela apontou para a camisa do Edu jogada na cama.

- Isso? Ahh, uma das blusas que pensei em usar, mas acabei mudando de ideia... – respondi rápido, pegando a blusa e a jogando no guarda-roupa de qualquer jeito – Então vamos, né? Já vou descer com a minha mala e com a bolsa. Vou adiantando o café enquanto você fica pronta, ok? – tratei de mudar de assunto.

Saímos juntas do quarto, minha mãe reclamando que eu não deveria ter dormido com a blusa para que ela não ficasse amassada e eu respondendo que meu look estava ok. Ela ainda tentou rebater dizendo que eu precisava verificar se a minha make não estava borrada, mas nem liguei. Na verdade, meu visual estava ótimo – a blusa estava um pouco amassada, era verdade, mas nada grave. E mesmo que não estivesse, nada me abalaria naquele dia. Eu estava tão cheia de felicidade que não sobrava espaço para mais nada que não fosse amor.

***
Fiquei impressionada com a inversão de papeis que vi aquela manhã. Minha mãe parecia uma adolescente checando a mala a cada cinco minutos, super insegura com os itens que estava levando. Precisei abrir sua bagagem para verificar se estava tudo em ordem. Dona Beatriz ficava olhando a lista com tudo que precisaria levar enquanto eu ria do seu jeito estabanado. Como alguém capaz de dirigir um espetáculo como Romeu e Julieta poderia se perder tão facilmente com uma simples viagem? Talvez fosse a falta de prática... Fazia tempo que não saíamos de férias.

Às dez horas em ponto o “seu” João chegou para nos buscar. Nosso voo estava marcado para uma da tarde. Porém, além da exigência de chegar uma hora mais cedo, minha mãe queria ter tempo para fazer todos os procedimentos com calma e ainda comer algo leve antes do embarque.

Meu plano era dormir durante o caminho até o aeroporto, mas minha mãe e o motorista não calavam a boca de jeito nenhum. O assunto, claro, era a apresentação do balé. “Seu” João não parava de elogiar e perguntar detalhes da produção. Tratei de colocar os fones e passei a baixar várias das músicas que o Edu me disse que gostava. No geral, o carioca tinha um gosto eclético, mas a maioria das canções era do tipo que remetia à praia, surfe e curtir a vida de modo livre e espontâneo. O mais engraçado é que eu não o enxergava vivendo daquele jeito. Ok, praia e surfe sim, mas vivendo de modo livre? Ele me parecia a pessoa mais enrolada que eu conhecia...

- Aliás, Gabi... filha – minha chamou um pouco mais alto para que pudesse escutá-la.

Contrariada, dei pause no som para ouvi-la – Oi!

- A gente mal teve tempo para conversar ontem. Eu cheguei tarde, você foi para a festa... Mas tenho uma novidade – ela sorriu do jeito que só fazia quando a notícia era relacionada a trabalho – A Secretaria de Educação de Mogi quer que a gente apresente o espetáculo para os alunos das escolas municipais. Ao todo, serão umas dez apresentações. Vamos precisar fazer algumas alterações porque o teatro deles é menor que o nosso, mas nada muito grave. Semana que vem já começo a pensar nisso e, no máximo, daqui duas semanas já começamos a ensaiar – a empolgação na sua voz era a mesma de uma criança contando que fora ao parque pela primeira vez – Por isso, depois da viagem vamos voltar com a dieta, viu mocinha? Você está muito gordinha para ser Julieta.

Fiquei olhando para ela, sem saber o que responder. Eu não estava gorda! Eu me sentia ótima! Além disso, o Edu não havia comentado nada na noite anterior...

Como não demonstrei nenhuma reação, dona Beatriz voltou a olhar para frente e retomou a conversa com o taxista me deixando sozinha com os meus pensamentos. Eu estava curtindo tanto aquele período sem ensaios, dieta e restrições... Era tão bom ser uma jovem normal, que viajava, comia chocolate, dormia tarde e tinha tempo de sobra para estudar, sair, ver séries de TV... Eu havia passado boa parte da minha juventude em um estúdio de balé, ensaiando, ensaiando e ensaiando... Era natural desejar algo diferente, não era?

Soltei o ar pesadamente e encostei a cabeça na janela. Uma “vozinha” chata” dentro de mim insistia em dizer que eu deveria estar feliz. Afinal, eu era protagonista de um balé de repertório bem sucedido, com chances de “roubar” a cena em grandes festivais. O pessoal do Bolshoi me viu dançar e estavam interessando em mim. Sem falar que enquanto a maioria dos meus amigos sairiam da escola e ainda precisariam fazer uma faculdade para depois iniciar uma carreira, a minha já estava muito bem encaminhada. Eu tinha a faca e o queijo na mão. Com um pouco mais de esforço eu chegaria ao grande objetivo estabelecido pela minha mãe. Então por que eu me sentia tão sufocada, como um corredor que se esforça tanto e acaba perdendo as energias perto da linha de chegada?

A ansiedade que tomara conta de mim nos últimos dias voltou a dar as caras. Eu quase conseguia senti-la sentando-se ao meu lado com um sorrisinho irônico no rosto, como se quisesse dizer: não adianta tentar me mandar ir embora, porque eu sempre acabo voltando.

Para piorar, chequei meu celular e não tinha mensagens do Edu. Eu havia mandando um bom dia logo pela manhã, mas estava sem resposta até o momento. Aquele silêncio significaria alguma coisa?

Passei as mãos pelos cabelos, nervosa. “Não pira, Gabriela”, repeti para mim mesma. Recoloquei os fones no ouvido e apertei o play. Imediatamente voltei para as lembranças da noite passada e, aos poucos, consegui me acalmar. Por enquanto, só aquilo me bastava...

***

“Sorria, você está na Bahia”. Aquela era uma frase velha que eu ouvira há muito tempo em um acústico que a banda Charlie Brown Jr. gravara para a MTV. Mesmo assim, não havia expressão melhor para definir Salvador, cidade onde pousamos.

Eu não sabia se era apenas impressão minha, mas as pessoas pareciam ser mais felizes ali. A cidade respirava Carnaval e o ritmo alegre das músicas parecia envolver toda a capital em uma áurea de alegria e empolgação. Pessoas de todos os lugares do Brasil e do mundo formavam um mosaico de idiomas, culturas e gestos diferentes. Era como estar em uma sala com vários painéis de TV ligados, cada um em um transmitindo um tipo de programação diferente. Uma verdadeira loucura!

Levamos mais tempo que habitual para pegar as bagagens, por conta do volume de pessoas que desembarcaram junto com a gente, mas deu tudo certo. Com as malas em mãos, saímos para procurar o taxista que seria responsável por nos levar até o resort. Pelo que minha mãe havia comentado, o percurso levaria cerca de uma hora e incluía uma travessia de balsa. Ou seja, eu teria algum tempo para tirar um cochilo.

Não demorou para encontrarmos o motorista. Ele estava exatamente no local informado pelo pessoal do hotel e nos esperava com um sorriso simpático no rosto. Dava para perceber que fora muito bem treinado, porque já sabia nossos nomes e nos tratava com muita presteza e cordialidade.

Colocamos tudo no porta-malas e entramos no carro. Assim que começamos a andar, encostei a cabeça contra a porta e fechei os olhos, pegando no sono imediatamente. Quando acordei, ouvi o taxista dizendo que faltava pouco para chegarmos.

Olhei pela janela enquanto piscava sem parar para tentar me acostumar com a claridade. Era fim de tarde, mas o sol brilhava intensamente e fazia muito calor. Seguíamos por uma estrada simples de asfalto, cercada por coqueiros e arbustos.

Como prometido pelo motorista, minutos depois estávamos cruzando a entrada do resort. Foi impossível não se impressionar. O lugar era incrível! A piscina era enorme, do tipo que exigia um fôlego extra para atravessá-la de um lado ao outro. Nas bordas, espreguiçadeiras brancas pareciam falar “deite-se e apenas curta o sol”. Na lateral da área, havia um bar decorado em estilo rústico. Ao longe, o mar arrebentava contra a praia, oferecendo uma vista que parecia ser do paraíso.

  Paramos em frente à recepção, onde descemos para fazer o check-in. O prédio seguia a mesma linha do bar: móveis de madeira clara e decoração praiana, tudo simples, mas muito aconchegante. Minha mãe tratou de todos os procedimentos e, depois de liberadas, seguimos para o nosso quarto. Um funcionário do hotel ficou responsável por mostrar o caminho e levar a nossa bagagem.

  Diferente dos hotéis tradicionais, ali os hóspedes ficavam em bangalôs situados sobre a sombra de um enorme coqueiral e cercado pelas águas de um rio com águas escuras e calmas. Passarelas de madeira permitiam o acesso até os dormitórios. Por dentro, o quarto não poderia ser mais encantador. A estrutura seguia a linha rústica, mas a decoração era colorida e gostosa de apreciar. Portas duplas garantiam a luminosidade e circulação do ar, além de uma bela vista da paisagem.

  Apesar do cansaço, não quis perder tempo. Vesti meu biquíni e um short jeans e fui direto para a piscina. Dona Beatriz ficara no quarto para tomar um banho e se refrescar. Realmente, o calor estava de matar.

  No caminho, chequei meu celular. Fiquei tão empolgada com o hotel que acabei me esquecendo um pouco do Edu. Ansiosa, mexi no aparelho e, imediatamente, senti um alívio dentro do meu peito. O carioca me respondeu!

“Bom dia! Ou melhor, boa tarde, né? Hahaha A essas horas você já deve estar tocando berimbau na Bahia”.

Fazia mais de uma hora que ele enviara a mensagem. Será que tinha acabado de acordar? Ou só tinha lembrado de me responder aquela hora?

- Aaaai! – senti algo duro e pesado bater com tudo na minha cabeça.

- Ai meu Deus do céu! Desculpa, moça! Eu estava distraída olhando o celular, não te vi passando – uma garota começou a se desculpar toda desesperada. Ela era alta, com a pele morena, belos olhos cor de mel e cabelos lisos de dar inveja. Em suas mãos estava o objeto que me acertou: uma prancha cumprida – Você está bem? – ela se aproximou com a expressão preocupada.

- Não, está tudo bem. Relaxa – murmurei colocando a mão no lugar que doía.

- Nossa, foi mal mesmo. Eu estava mexendo no celular, postando uma foto no Instagram... Não te vi no caminho – a morena se justificou, ainda bastante agitada.

- Eu também estava mexendo no celular. Acho que as duas são culpadas – mexi as mãos de modo conciliador.

Ela riu do comentário, relaxando um pouco – É que tirei uma foto irada, aí você sabe, né? Tem que postar...

Ficamos em silêncio por um instante e foi só aí que parei para analisar a situação. Sotaque diferenciado, do tipo que fala os “erres” de e os “esses” de um jeito mais carregado, e com uma prancha na mão. Era coincidência demais para ser verdade...

- Você é carioca? – perguntei, balançando a cabeça de modo incrédulo.

- Sou sim.

- E é surfista? – apontei para a prancha, agora com a certeza que o destino estava de zuera com a minha cara. Tanta gente para eu encontrar e fui esbarrar logo em uma carioca?!

- Não, isso é uma prancha de stand up paddle – a minha nova “amiga” explicou – Nunca viu? É tipo surfe, mas você usa um remo...

- Hããã... Pior que não – assumi sem jeito.

- Da onde você é? – a garota pareceu espantada por eu não saber do que ela estava falando.

- De São Paulo. Na verdade, interior de São Paulo...

- Ah, que massa! Vem, vamos comigo guardar a minha prancha!. Aí no caminho te explico...

Ela era tão simpática que, quando me dei conta, já estava a caminho do seu quarto, conversando como se fossemos amigas. Descobri que seu nome era Raíssa, tinha 17 anos e que estava acompanhada do pai, mãe e irmã mais nova. Praticava stand up há pouco mais de um ano e adorava sol, praia e a prática do esporte.

- Nossa, você lembra muito uma pessoa que conheço – comentei, olhando o celular para ver se o Edu já tinha me respondido.

Guardamos a prancha e voltamos conversando até alcançar a piscina. Pedimos um açaí no bar e comemos juntas enquanto a Raíssa me explicava como funcionava o stand up. Pelo o que havia entendido, não parecia um esporte difícil de ser praticado. Basicamente, tudo o que a Raíssa fazia era subir na prancha e sair por aí, remando e curtindo a paisagem. Não que eu achasse algo fácil, mas perto do balé que exigia postura, elasticidade e disciplina, aquilo parecia algo tranquilo demais.

- É que eu faço só por lazer mesmo. Acho que seria capaz de passar horas no mar. Mas tem gente que leva mais a sério. Tem competições de vários tipos... Até uma que parece surfe, só que com o remo – ela explicou ao perceber que eu não estava dando o devido valor à modalidade.

- Sim, eu estava só pensando nos meus ensaios de balé. Queriam que fossem assim, tão simples... É que você fala com um brilho nos olhos que... sei lá... dá até vontade de pegar uma prancha e sair por aí, remando...

- Amanhã você pode fazer isso, se você quiser. O hotel empresta o material e tem instrutores também. Tenho certeza que você vai amar – a carioca propôs com o seu jeito animado e extrovertido.

- Ai, eu quero! Deve ser uma delícia! – bati as mãos uma na outra, animada.

- Então está fechado! A gente se encontra aqui de amanhã de manhã, pode ser? Mas tem que ser cedinho, senão o sol esquenta demais e fica impossível ficar na água. Eu ia voltar para a água agora à tarde, mas a gente acabou começando a conversar... – deu de ombros.

- Ah, mas eu adorei te encontrar. Você é tão legal...

- Sou nada. Se eu fosse legal mesmo, você não ficava grudada nesse celular o tempo todo – a Raíssa apontou o meu aparelho fingindo cara de brava.

Sorri sem graça. Eu não conseguia parar de falar com o Edu... – É que meu amigo está querendo saber como estão as coisas por aqui – desconversei.

- Amigo? Ahã... Sei... – tive que aguentar o tom irônico da moça – Mas esse papo não está me parecendo tão animado assim...

Poxa, estava assim tão na cara que o Edu era um cara complicado?

- É que é difícil... – desviei o olhar para o mar, soltando o ar pesadamente. O sol começava a se esconder no horizonte, deixando o céu em tons de dourado, rosa e púrpura. Era um verdadeiro espetáculo que só uma terra tão abençoada poderia proporcionar.

- Difícil? “Tô” vendo que tem rolo aí. Que tal uma sobremesa enquanto você me conta tudo? – ela propôs de uma maneira muito difícil de resistir. Chamamos o garçom, pedimos uma taça caprichada de morango com chantilly e continuamos a conversa.

- Para resumir, faz um tempo que estou ficando com esse garoto. Mas ele é... estranho. Tipo, quando estamos juntos ele me trata super bem, mas na frente de outras pessoas acaba sendo meio distante e frio. E ontem... – fiz uma pausa para buscar as palavras certas – aconteceu algo muito especial entre a gente. E aí eu esperava que as coisas mudassem, que ele me tratasse de forma mais íntima, só que ele continua do mesmo jeito... – fiz biquinho.

Até aquele momento, o carioca só tinha perguntando se estava tudo bem, se não tinha nenhuma dor ou incômodo. Tudo bem que aquele já era um “grande passo”. Eu sabia que significava que ele se importava. Mas eu queria mais. Não era pedir muito, não é mesmo?

- Quando você diz algo especial... – ela gesticulou com as mãos querendo indicar algo a mais.

- Exatamente isso que você está pensando – confirmei com a voz baixa.

- Caramba! – a Raíssa levou as mãos à boca, surpresa – Me conta mais. Quero saber de tudo! Pelo visto a coisa é séria...

Comecei a contar a história desde o início: do dia que nos conhecemos no Gueto, do meu pé machucado, das conversas no Whats, do dia que dançamos juntos na frente de casa até a festa de Carnaval.

Enquanto falávamos eu continuava trocando mensagens com o Edu. Contei que tinha conhecido uma carioca super gente boa que me ensinaria o stand up paddle no dia seguinte.

“Vou pegar onda que nem você”

Digitei, empolgada. Eu e a Raíssa já estávamos na nossa segunda taça de morangos com chantilly. Se minha mãe visse aquilo eu seria uma garota morta. Por sorte, dona Beatriz mandou mensagem dizendo que iria até o spa. Eu estava livre, pelo menos, por algum tempo.

“Vai praticando. Assim a gente pode descer para a praia juntos qualquer dia”.

- Isso é um convite? – a morena me perguntou enquanto pescava outro morango da taça.

- Olha... Se for, é um grande passo na nossa relação. Para quem não queria nem andar de mãos dadas comigo, fazer um convite para ir à praia juntos é bem surpreendente – comentei, pasma. Aquilo seria um bom sinal?

- Não perde essa oportunidade, menina! Provoca ele – a Raíssa estava se divertindo muito com a situação.

- Provocar como? – entrei na brincadeira. Estava gostando muito do jeito de pensar daquela garota.

- Pergunta se é um convite, oras – ela mexeu as mãos como se estivesse impaciente – Aproveita e fala que se for, você vai adorar surfar com ele. Mesmo que stand up não seja a mesma coisa que surfar...

Peguei o celular e escrevi exatamente o que a carioca disse. Ficamos que nem bobas esperando a resposta, hipnotizadas pela palavra “escrevendo” que aparecia embaixo do nome do Edu na tela do meu celular.

“Seria muito massa. Pena que é tão complicado...”

- Complicado por quê? – estranhei a resposta.

- É, complicado por quê? – a Raíssa sugeriu – Já aproveita e faz um “ciuminho” para ele. Fala que te convidei para praticar stand up paddle lá no Rio. Se ele sente tanta saudade da Cidade Maravilhosa como você diz,  vai morrer de inveja.

Não perdi tempo e digitei tudo o que ela pediu. Dessa vez a resposta veio muito mais rápido.

Complicado porque tem a sua mãe, a escola, seus ensaios, um monte de coisa, né? ‘Capaz’ mesmo... Tem que ir pro Rio é comigo. Conheço todos os picos de surfe daquela cidade”

- Uiii, ele se doeu! – a Raíssa caiu na risada – Isso é ótimo, Gabi! É certeza que ele está afim de você.

-Você acha mesmo? O Edu é tão estranho... – encarei o celular como se esperasse que brotasse dali uma resposta definitiva para todos os meus problemas.

- Pra mim está muito óbvio que ele está afim. Mas tem um jeito fácil da gente descobrir isso.

- Sério? Como? – parecia que eu estava prestes a descobrir os números que seriam sorteados na megasena, tamanho foi o meu interesse.

- Aproveita que você está viajando e dá um “gelo” nele. Ao invés de ficar apegada com o celular na mão, disponível 24 horas para ele – ela apontou o dedo me acusando - deixa esse garoto de lado um pouco. Demora para responder as mensagens, fala que está aproveitando muito a Bahia, que conheceu um monte de gente bacana... Tipo, você continua tratando esse tal Edu com todo carinho e atenção. Mas dá um jeito de mostrar que se ele não se cuidar, a fila anda... – mexeu as mãos como quem diz “perdeu, playboy” – Se mesmo assim ele der um jeito de puxar assunto querendo saber como está a viagem, ou se curtir suas fotos no Instagram, ou, melhor ainda, demonstrar algum tipo de ciúme, PÁ! Ele está afim...

- Será? – eu começava a considerar a hipótese.

- Aposto com quem quiser, Gabi. É infalível – ela garantiu com um sorriso convencido no rosto.

- Então “bora” tentar” – resolvi arriscar. Afinal de contas, o Alê sempre me ensinou que, se vai pedir truco, pede logo seis. E eu já tinha pedido truco na festa do Gueto. Agora era hora de dobrar a aposta.

- Então, já era! – ela tomou o celular da minha mão – Só vou dar um tchau aqui para ele e falar que vamos curtir o luau que vai rolar daqui a pouco na praia. E aí, vamos deixar esse mocinho refletindo um pouco sobre o que ele quer da vida – a carioca piscou para mim antes de começar a digitar na tela do meu iPhone. Depois ela colocou o celular no bolso e ficou de pé  - E aí? Bora dar uma volta no hotel antes de ir para o luau?

Levantei com um sorriso confiante no rosto – Vamos! – confirmei com uma gostosa sensação de que tudo ia dar certo.

***

Os dias na Bahia foram incríveis. Como me prometera, a Raíssa me ajudou a fazer stand up. No começo demorei para ficar em pé na prancha, mas bastou um pouco de prática para pegar o jeito da coisa.

Eu e a Rá passávamos quase o dia inteiro na água, praticando. Sempre que estava na água eu pensava no Edu. Agora eu entendia porque ele tinha tanto fascínio pelo mar. Era uma energia incrível ficar em contato com a natureza, só sentindo o movimento da maré...

Só voltávamos para o hotel quando o sol esquentava muito. Nessas horas deitávamos na beira da piscina, pedíamos uma água de coco e ficávamos só espiando os “gatinhos”. A carioca acabou me contando que também tinha um “rolo” bem complicado na escola. Ela era louca por um garoto, mas o cara tinha namorada. Bem tenso!

Falando em “rolo”, o plano da minha nova amiga estava dando certo. O Edu ficava inventando assunto no Whats, só para poder puxar papo. Só para provocar, pedi para minha mãe tirar várias fotos minhas fazendo stand up e publiquei algumas no meu Instagram. Queria que ele visse que não estava brincando quando disse que toparia ir para a praia ao seu lado. E, claro, também queria deixar as recalcadas da Mari e Nathy ainda mais loucas de inveja...

Dona Beatriz acabou ficando amiga dos pais da Raíssa, o que nos aproximou ainda mais. Quase todos os dias nós duas ficávamos acordadas até tarde curtindo as atividades do clube. Além do luau, participamos de uma festa à fantasia e de um show de micareta de uma banda local. Voltávamos para o quarto só para tirar um cochilo e no dia seguinte, logo de manhãzinha, já estávamos na praia. Era uma delícia! Fazia anos que não ficava tão bronzeada daquele jeito.

Mas como tudo que é bom dura pouco, a quarta-feira de cinzas chegou para colocar fim no meu “conto de fadas”. Quando me dei conta, já estávamos no aeroporto deixando aquele refúgio de alegria para trás.
Dormi quase durante toda a viagem de volta. Só acordei quando estávamos prestes a aterrissar em São Paulo. Ao olhar pela janela, as nuvens cinzas que envolviam a cidade foram um verdadeiro choque de realidade. Depois de dias de muito sol na Bahia, ver o clima fechado e pesado na capital paulista era como se alguém quisesse me dar um aviso “o tempo bom acabou. Agora é hora de voltar para a sua realidade”.

E a minha realidade era a excentricidade do Edu, a “trairagem” da Mari, dieta, ensaios, escola e deveres. Realmente nada animador...

Chequei meu celular assim que desembarquei. Eu havia comentando com o carioca que chegaria naquela tarde. Tinha esperanças que ele pedisse para me ver, mas o primo do Alê apenas me desejou boa viagem. Senti meu estômago afundar. Será que o plano da Raíssa não daria certo?

Resolvi especular o que acontecera na minha ausência com a Carol. Como estava me esforçando para não responder o Edu, acabei ficando distante das redes sociais durante a viagem. Eu precisava de uma atualização geral para poder definir os meus próximos passos.

“Cááá, cheguei! Acabo de desembarcar na Terra da Garoa. Estou pegando o táxi para GMA.”

Digitei usando a abreviação do nome da nossa cidade.

Ebaaa! Estava com saudades, Gabs”.

A Carol, como sempre, estava online no Whats.

“Eu também! Aliás, quero relatório completo. Como estão as coisas?”

“Ai Gaaabs... Não vão nada bem. Você não vai gostar do que tenho para te contar”.

Respirei fundo me preparando para o que estava por vir. Pelo visto, a quarta-feira realmente seria de cinzas.
__________________________
Notas finais: Curiosas para saber o que vai acontecer? Ok, como sou muito boazinha, eu conto:
- Vai rolar conversa “face to face” entre Gabi e Mari. É genteee, forninho vai cair! Gabs vai colocar a traíra da Marília contra a parede!

Quem vence esse duelo? E de que lado o Edu vai ficar?


***Bora para o próximo capítulo? Então clique aqui 

2 comentários:

  1. Cadê vocêeeeeeeee? quero maisssssssssssss
    isso tá muito bommmm
    @somosluanetes_

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Você chamou e eu apareci! hahahaha

      Capítulo 15 acaba de ser postado! Corre pra ler que tá babado!

      Agora falando sério: desculpa a demora. É que está corrido aqui pra mim. Mas estou fazendo o possível para não atrasar muito as postagens.

      Beijo e muitoooo obrigada por ler e comentar. <3

      Excluir

Oiieeee.... xD

Espero que esteja curtindo a fic!
Se estiver, não deixe de "perder uns minutinhos" para me contar a sua opinião, registrar o seu surto ou apenas para dar um oi! E se não estiver curtindo, aproveite o espaço para "soltar o verbo" e falar o que te desagradou!

Uma história não existe sem leitores! São vocês que me dão forças para continuar escrevendo e caprichando cada vez mais em cada capítulo! Portanto, deixe de "corpo mole" e venha "prosear" sobre as fics comigo e com as outras meninas que passam por aqui! *-*

Cada comentário ilumina muito o meu dia! Não deixe de fazer uma quase-escritora feliz: Comente! *-*

E não esqueça de deixar o seu nome, ok?!