Notas iniciais: Ok, não me matem! Sei que demorei, mas é que estou
fazendo um curso à noite e está corrido no trabalho. Aí fica difícil dar conta
de tudo. Mas cá estou eu para postar! =)
É o seguinte:
precisei dividir o cap em dois. A primeira parte está mais morna, mas a segunda
estará bem tensa! Espero que gostem!
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Abri a porta de casa com o máximo cuidado e subi as
escadas na ponta dos pés. Eu estava tão feliz que assim que entrei no quarto
corri para o banheiro – literalmente. Fechei a porta, coloquei uma música animada
para tocar no celular e entrei no chuveiro dançando como se fosse uma criança.
Apesar do meu corpo estar um pouco dolorido, eu me
sentia ótima. Lavei os cabelos - que estavam muito embaraçados – e depois de
ter terminado, fiquei embaixo da água morna relembrando cada momento da noite
como se fosse um filme que eu não cansava de ver e rever.
Minha empolgação era tanta que não conseguia
dormir. Então sequei os cabelos, vesti a roupa que usaria naquela manhã – shorts
jeans, blusa soltinha e bota de cano baixo – fiz uma maquiagem básica e
acrescentei os itens que ainda faltavam na minha mala. Um sorriso bobo teimava
em permanecer nos meus lábios e vez ou outra eu me pegava parada, olhando para
o vazio, sentindo a alegria dominar cada parte de mim. Eu nunca tinha usado
drogas, mas imaginava que era assim que as pessoas se sentiam quando
experimentavam alguma. A sensação era inebriante.
Era quase sete da manhã quando deitei para dormir
um pouco, a camisa cinza do Edu perto do rosto para que pudesse sentir o seu
cheiro. Cochilei pouco mais de uma hora até que minha mãe apareceu no meu
quarto.
- Booom dia, bela adormecida! Quero nem saber se
você chegou tarde ontem da casa da Carol. Está na hora de acordar, senão
perderemos o voo – ela gritou da porta, me fazendo dar um pulo tamanho o susto
que tomei.
- Ué, você já está pronta? – dona Beatriz
estranhou.
- Sim! Cheguei, tomei banho e já vesti a roupa que
vou para o aeroporto – expliquei entre um bocejo e outro – Assim fica mais
fácil. Agora é só passar um gloss, calçar os sapatos e pronto! – me espreguicei
antes de terminar a frase – Você não ouviu o barulho do secador hoje de manhã?
– estava certa que ela me mataria por perturbá-la logo com cedo com tanta
bagunça.
- Pior que não! Estava tão ansiosa com a viagem que
precisei tomar um calmante para conseguir dormir. Queria ter acordado mais cedo
hoje, mas acabei perdendo a hora. O jeito agora é correr – ela se explicou,
coçando os olhos ainda meio sonolenta.
Respirei aliviada. Se minha mãe não acordou nem com
o barulho do secador, as chances dela ter me ouvido chegando com o dia
amanhecendo eram quase nulas. Definitivamente, aquela fora a minha noite de
sorte.
- O que é isso? – ela apontou para a camisa do Edu
jogada na cama.
- Isso? Ahh, uma das blusas que pensei em usar, mas
acabei mudando de ideia... – respondi rápido, pegando a blusa e a jogando no
guarda-roupa de qualquer jeito – Então vamos, né? Já vou descer com a minha
mala e com a bolsa. Vou adiantando o café enquanto você fica pronta, ok? –
tratei de mudar de assunto.
Saímos juntas do quarto, minha mãe reclamando que
eu não deveria ter dormido com a blusa para que ela não ficasse amassada e eu
respondendo que meu look estava ok. Ela ainda tentou rebater dizendo que eu
precisava verificar se a minha make não estava borrada, mas nem liguei. Na
verdade, meu visual estava ótimo – a blusa estava um pouco amassada, era
verdade, mas nada grave. E mesmo que não estivesse, nada me abalaria naquele
dia. Eu estava tão cheia de felicidade que não sobrava espaço para mais nada
que não fosse amor.
***
Fiquei impressionada com a inversão de papeis que
vi aquela manhã. Minha mãe parecia uma adolescente checando a mala a cada cinco
minutos, super insegura com os itens que estava levando. Precisei abrir sua
bagagem para verificar se estava tudo em ordem. Dona Beatriz ficava olhando a
lista com tudo que precisaria levar enquanto eu ria do seu jeito estabanado.
Como alguém capaz de dirigir um espetáculo como Romeu e Julieta poderia se
perder tão facilmente com uma simples viagem? Talvez fosse a falta de
prática... Fazia tempo que não saíamos de férias.
Às dez horas em ponto o “seu” João chegou para nos
buscar. Nosso voo estava marcado para uma da tarde. Porém, além da exigência de
chegar uma hora mais cedo, minha mãe queria ter tempo para fazer todos os
procedimentos com calma e ainda comer algo leve antes do embarque.
Meu plano era dormir durante o caminho até o
aeroporto, mas minha mãe e o motorista não calavam a boca de jeito nenhum. O
assunto, claro, era a apresentação do balé. “Seu” João não parava de elogiar e
perguntar detalhes da produção. Tratei de colocar os fones e passei a baixar
várias das músicas que o Edu me disse que gostava. No geral, o carioca tinha um
gosto eclético, mas a maioria das canções era do tipo que remetia à praia,
surfe e curtir a vida de modo livre e espontâneo. O mais engraçado é que eu não
o enxergava vivendo daquele jeito. Ok, praia e surfe sim, mas vivendo de modo
livre? Ele me parecia a pessoa mais enrolada que eu conhecia...
- Aliás, Gabi... filha – minha chamou um pouco mais
alto para que pudesse escutá-la.
Contrariada, dei pause no som para ouvi-la – Oi!
- A gente mal teve tempo para conversar ontem. Eu
cheguei tarde, você foi para a festa... Mas tenho uma novidade – ela sorriu do
jeito que só fazia quando a notícia era relacionada a trabalho – A Secretaria
de Educação de Mogi quer que a gente apresente o espetáculo para os alunos das
escolas municipais. Ao todo, serão umas dez apresentações. Vamos precisar fazer
algumas alterações porque o teatro deles é menor que o nosso, mas nada muito
grave. Semana que vem já começo a pensar nisso e, no máximo, daqui duas semanas
já começamos a ensaiar – a empolgação na sua voz era a mesma de uma criança
contando que fora ao parque pela primeira vez – Por isso, depois da viagem
vamos voltar com a dieta, viu mocinha? Você está muito gordinha para ser
Julieta.
Fiquei olhando para ela, sem saber o que responder.
Eu não estava gorda! Eu me sentia ótima! Além disso, o Edu não havia comentado
nada na noite anterior...
Como não demonstrei nenhuma reação, dona Beatriz
voltou a olhar para frente e retomou a conversa com o taxista me deixando
sozinha com os meus pensamentos. Eu estava curtindo tanto aquele período sem
ensaios, dieta e restrições... Era tão bom ser uma jovem normal, que viajava,
comia chocolate, dormia tarde e tinha tempo de sobra para estudar, sair, ver
séries de TV... Eu havia passado boa parte da minha juventude em um estúdio de
balé, ensaiando, ensaiando e ensaiando... Era natural desejar algo diferente,
não era?
Soltei o ar pesadamente e encostei a cabeça na
janela. Uma “vozinha” chata” dentro de mim insistia em dizer que eu deveria
estar feliz. Afinal, eu era protagonista de um balé de repertório bem sucedido,
com chances de “roubar” a cena em grandes festivais. O pessoal do Bolshoi me
viu dançar e estavam interessando em mim. Sem falar que enquanto a maioria dos
meus amigos sairiam da escola e ainda precisariam fazer uma faculdade para
depois iniciar uma carreira, a minha já estava muito bem encaminhada. Eu tinha
a faca e o queijo na mão. Com um pouco mais de esforço eu chegaria ao grande
objetivo estabelecido pela minha mãe. Então por que eu me sentia tão sufocada,
como um corredor que se esforça tanto e acaba perdendo as energias perto da
linha de chegada?
A ansiedade que tomara conta de mim nos últimos
dias voltou a dar as caras. Eu quase conseguia senti-la sentando-se ao meu lado
com um sorrisinho irônico no rosto, como se quisesse dizer: não adianta tentar
me mandar ir embora, porque eu sempre acabo voltando.
Para piorar, chequei meu celular e não tinha
mensagens do Edu. Eu havia mandando um bom dia logo pela manhã, mas estava sem
resposta até o momento. Aquele silêncio significaria alguma coisa?
Passei as mãos pelos cabelos, nervosa. “Não pira,
Gabriela”, repeti para mim mesma. Recoloquei os fones no ouvido e apertei o
play. Imediatamente voltei para as lembranças da noite passada e, aos poucos,
consegui me acalmar. Por enquanto, só aquilo me bastava...
***
“Sorria, você está na Bahia”. Aquela era uma frase velha que eu ouvira há muito tempo em um
acústico que a banda Charlie Brown Jr. gravara para a MTV. Mesmo assim, não
havia expressão melhor para definir Salvador, cidade onde pousamos.
Eu não sabia se era apenas impressão minha, mas as
pessoas pareciam ser mais felizes ali. A cidade respirava Carnaval e o ritmo
alegre das músicas parecia envolver toda a capital em uma áurea de alegria e
empolgação. Pessoas de todos os lugares do Brasil e do mundo formavam um
mosaico de idiomas, culturas e gestos diferentes. Era como estar em uma sala
com vários painéis de TV ligados, cada um em um transmitindo um tipo de
programação diferente. Uma verdadeira loucura!
Levamos mais tempo que habitual para pegar as
bagagens, por conta do volume de pessoas que desembarcaram junto com a gente,
mas deu tudo certo. Com as malas em mãos, saímos para procurar o taxista que
seria responsável por nos levar até o resort. Pelo que minha mãe havia
comentado, o percurso levaria cerca de uma hora e incluía uma travessia de
balsa. Ou seja, eu teria algum tempo para tirar um cochilo.
Não demorou para encontrarmos o motorista. Ele
estava exatamente no local informado pelo pessoal do hotel e nos esperava com
um sorriso simpático no rosto. Dava para perceber que fora muito bem treinado,
porque já sabia nossos nomes e nos tratava com muita presteza e cordialidade.
Colocamos tudo no porta-malas e entramos no carro.
Assim que começamos a andar, encostei a cabeça contra a porta e fechei os
olhos, pegando no sono imediatamente. Quando acordei, ouvi o taxista dizendo
que faltava pouco para chegarmos.
Olhei pela janela enquanto piscava sem parar para
tentar me acostumar com a claridade. Era fim de tarde, mas o sol brilhava
intensamente e fazia muito calor. Seguíamos por uma estrada simples de asfalto,
cercada por coqueiros e arbustos.
Como prometido pelo motorista, minutos depois
estávamos cruzando a entrada do resort. Foi impossível não se impressionar. O
lugar era incrível! A piscina era enorme, do tipo que exigia um fôlego extra
para atravessá-la de um lado ao outro. Nas bordas, espreguiçadeiras brancas
pareciam falar “deite-se e apenas curta o sol”. Na lateral da área, havia um
bar decorado em estilo rústico. Ao longe, o mar arrebentava contra a praia, oferecendo
uma vista que parecia ser do paraíso.
Paramos em frente à recepção, onde descemos
para fazer o check-in. O prédio seguia a mesma linha do bar: móveis de madeira
clara e decoração praiana, tudo simples, mas muito aconchegante. Minha mãe
tratou de todos os procedimentos e, depois de liberadas, seguimos para o nosso
quarto. Um funcionário do hotel ficou responsável por mostrar o caminho e levar
a nossa bagagem.
Diferente dos hotéis tradicionais, ali os
hóspedes ficavam em bangalôs situados sobre a sombra de um enorme coqueiral e
cercado pelas águas de um rio com águas escuras e calmas. Passarelas de madeira
permitiam o acesso até os dormitórios. Por dentro, o quarto não poderia ser
mais encantador. A estrutura seguia a linha rústica, mas a decoração era
colorida e gostosa de apreciar. Portas duplas garantiam a luminosidade e
circulação do ar, além de uma bela vista da paisagem.
Apesar do cansaço, não quis perder tempo.
Vesti meu biquíni e um short jeans e fui direto para a piscina. Dona Beatriz ficara
no quarto para tomar um banho e se refrescar. Realmente, o calor estava de
matar.
No caminho, chequei meu celular. Fiquei tão
empolgada com o hotel que acabei me esquecendo um pouco do Edu. Ansiosa, mexi
no aparelho e, imediatamente, senti um alívio dentro do meu peito. O carioca me
respondeu!
“Bom dia! Ou melhor, boa tarde, né? Hahaha A essas
horas você já deve estar tocando berimbau na Bahia”.
Fazia mais de uma hora que ele enviara a mensagem.
Será que tinha acabado de acordar? Ou só tinha lembrado de me responder aquela
hora?
- Aaaai! – senti algo duro e pesado bater com tudo
na minha cabeça.
- Ai meu Deus do céu! Desculpa, moça! Eu estava distraída
olhando o celular, não te vi passando – uma garota começou a se desculpar toda
desesperada. Ela era alta, com a pele morena, belos olhos cor de mel e cabelos
lisos de dar inveja. Em suas mãos estava o objeto que me acertou: uma prancha
cumprida – Você está bem? – ela se aproximou com a expressão preocupada.
- Não, está tudo bem. Relaxa – murmurei colocando a
mão no lugar que doía.
- Nossa, foi mal mesmo. Eu estava mexendo no
celular, postando uma foto no Instagram... Não te vi no caminho – a morena se
justificou, ainda bastante agitada.
- Eu também estava mexendo no celular. Acho que as
duas são culpadas – mexi as mãos de modo conciliador.
Ela riu do comentário, relaxando um pouco – É que
tirei uma foto irada, aí você sabe, né? Tem que postar...
Ficamos em silêncio por um instante e foi só aí que
parei para analisar a situação. Sotaque diferenciado, do tipo que fala os
“erres” de e os “esses” de um jeito mais carregado, e com uma prancha na mão.
Era coincidência demais para ser verdade...
- Você é carioca? – perguntei, balançando a cabeça
de modo incrédulo.
- Sou sim.
- E é surfista? – apontei para a prancha, agora com
a certeza que o destino estava de zuera com a minha cara. Tanta gente para eu
encontrar e fui esbarrar logo em uma carioca?!
- Não, isso é uma prancha de stand up paddle – a
minha nova “amiga” explicou – Nunca viu? É tipo surfe, mas você usa um remo...
- Hããã... Pior que não – assumi sem jeito.
- Da onde você é? – a garota pareceu espantada por
eu não saber do que ela estava falando.
- De São Paulo. Na verdade, interior de São
Paulo...
- Ah, que massa! Vem, vamos comigo guardar a minha
prancha!. Aí no caminho te explico...
Ela era tão simpática que, quando me dei conta, já
estava a caminho do seu quarto, conversando como se fossemos amigas. Descobri
que seu nome era Raíssa, tinha 17 anos e que estava acompanhada do pai, mãe e
irmã mais nova. Praticava stand up há pouco mais de um ano e adorava sol, praia
e a prática do esporte.
- Nossa, você lembra muito uma pessoa que conheço –
comentei, olhando o celular para ver se o Edu já tinha me respondido.
Guardamos a prancha e voltamos conversando até
alcançar a piscina. Pedimos um açaí no bar e comemos juntas enquanto a Raíssa
me explicava como funcionava o stand up. Pelo o que havia entendido, não
parecia um esporte difícil de ser praticado. Basicamente, tudo o que a Raíssa
fazia era subir na prancha e sair por aí, remando e curtindo a paisagem. Não
que eu achasse algo fácil, mas perto do balé que exigia postura, elasticidade e
disciplina, aquilo parecia algo tranquilo demais.
- É que eu faço só por lazer mesmo. Acho que seria
capaz de passar horas no mar. Mas tem gente que leva mais a sério. Tem
competições de vários tipos... Até uma que parece surfe, só que com o remo –
ela explicou ao perceber que eu não estava dando o devido valor à modalidade.
- Sim, eu estava só pensando nos meus ensaios de
balé. Queriam que fossem assim, tão simples... É que você fala com um brilho
nos olhos que... sei lá... dá até vontade de pegar uma prancha e sair por aí,
remando...
- Amanhã você pode fazer isso, se você quiser. O
hotel empresta o material e tem instrutores também. Tenho certeza que você vai
amar – a carioca propôs com o seu jeito animado e extrovertido.
- Ai, eu quero! Deve ser uma delícia! – bati as
mãos uma na outra, animada.
- Então está fechado! A gente se encontra aqui de
amanhã de manhã, pode ser? Mas tem que ser cedinho, senão o sol esquenta demais
e fica impossível ficar na água. Eu ia voltar para a água agora à tarde, mas a
gente acabou começando a conversar... – deu de ombros.
- Ah, mas eu adorei te encontrar. Você é tão
legal...
- Sou nada. Se eu fosse legal mesmo, você não
ficava grudada nesse celular o tempo todo – a Raíssa apontou o meu aparelho
fingindo cara de brava.
Sorri sem graça. Eu não conseguia parar de falar
com o Edu... – É que meu amigo está querendo saber como estão as coisas por
aqui – desconversei.
- Amigo? Ahã... Sei... – tive que aguentar o tom
irônico da moça – Mas esse papo não está me parecendo tão animado assim...
Poxa, estava assim tão na cara que o Edu era um
cara complicado?
- É que é difícil... – desviei o olhar para o mar,
soltando o ar pesadamente. O sol começava a se esconder no horizonte, deixando
o céu em tons de dourado, rosa e púrpura. Era um verdadeiro espetáculo que só
uma terra tão abençoada poderia proporcionar.
- Difícil? “Tô” vendo que tem rolo aí. Que tal uma
sobremesa enquanto você me conta tudo? – ela propôs de uma maneira muito
difícil de resistir. Chamamos o garçom, pedimos uma taça caprichada de morango
com chantilly e continuamos a conversa.
- Para resumir, faz um tempo que estou ficando com
esse garoto. Mas ele é... estranho. Tipo, quando estamos juntos ele me trata
super bem, mas na frente de outras pessoas acaba sendo meio distante e frio. E
ontem... – fiz uma pausa para buscar as palavras certas – aconteceu algo muito
especial entre a gente. E aí eu esperava que as coisas mudassem, que ele me
tratasse de forma mais íntima, só que ele continua do mesmo jeito... – fiz
biquinho.
Até aquele momento, o carioca só tinha perguntando
se estava tudo bem, se não tinha nenhuma dor ou incômodo. Tudo bem que aquele
já era um “grande passo”. Eu sabia que significava que ele se importava. Mas eu
queria mais. Não era pedir muito, não é mesmo?
- Quando você diz algo especial... – ela gesticulou
com as mãos querendo indicar algo a mais.
- Exatamente isso que você está pensando –
confirmei com a voz baixa.
- Caramba! – a Raíssa levou as mãos à boca, surpresa
– Me conta mais. Quero saber de tudo! Pelo visto a coisa é séria...
Comecei a contar a história desde o início: do dia
que nos conhecemos no Gueto, do meu pé machucado, das conversas no Whats, do
dia que dançamos juntos na frente de casa até a festa de Carnaval.
Enquanto falávamos eu continuava trocando mensagens
com o Edu. Contei que tinha conhecido uma carioca super gente boa que me
ensinaria o stand up paddle no dia seguinte.
“Vou pegar onda que nem você”
Digitei, empolgada. Eu e a Raíssa já estávamos na
nossa segunda taça de morangos com chantilly. Se minha mãe visse aquilo eu
seria uma garota morta. Por sorte, dona Beatriz mandou mensagem dizendo que
iria até o spa. Eu estava livre, pelo menos, por algum tempo.
“Vai praticando. Assim a gente pode descer para a
praia juntos qualquer dia”.
- Isso é um convite? – a morena me perguntou
enquanto pescava outro morango da taça.
- Olha... Se for, é um grande passo na nossa
relação. Para quem não queria nem andar de mãos dadas comigo, fazer um convite
para ir à praia juntos é bem surpreendente – comentei, pasma. Aquilo seria um
bom sinal?
- Não perde essa oportunidade, menina! Provoca ele
– a Raíssa estava se divertindo muito com a situação.
- Provocar como? – entrei na brincadeira. Estava
gostando muito do jeito de pensar daquela garota.
- Pergunta se é um convite, oras – ela mexeu as
mãos como se estivesse impaciente – Aproveita e fala que se for, você vai
adorar surfar com ele. Mesmo que stand up não seja a mesma coisa que surfar...
Peguei o celular e escrevi exatamente o que a
carioca disse. Ficamos que nem bobas esperando a resposta, hipnotizadas pela
palavra “escrevendo” que aparecia embaixo do nome do Edu na tela do meu
celular.
“Seria muito massa. Pena que é tão complicado...”
- Complicado por quê? – estranhei a resposta.
- É, complicado por quê? – a Raíssa sugeriu – Já
aproveita e faz um “ciuminho” para ele. Fala que te convidei para praticar
stand up paddle lá no Rio. Se ele sente tanta saudade da Cidade Maravilhosa
como você diz, vai morrer de inveja.
Não perdi tempo e digitei tudo o que ela pediu.
Dessa vez a resposta veio muito mais rápido.
“Complicado porque tem a sua mãe, a escola, seus
ensaios, um monte de coisa, né? ‘Capaz’ mesmo... Tem que ir pro Rio é comigo.
Conheço todos os picos de surfe daquela cidade”
- Uiii, ele se doeu! – a Raíssa caiu na risada –
Isso é ótimo, Gabi! É certeza que ele está afim de você.
-Você acha mesmo? O Edu é tão estranho... – encarei
o celular como se esperasse que brotasse dali uma resposta definitiva para
todos os meus problemas.
- Pra mim está muito óbvio que ele está afim. Mas
tem um jeito fácil da gente descobrir isso.
- Sério? Como? – parecia que eu estava prestes a
descobrir os números que seriam sorteados na megasena, tamanho foi o meu
interesse.
- Aproveita que você está viajando e dá um “gelo”
nele. Ao invés de ficar apegada com o celular na mão, disponível 24 horas para
ele – ela apontou o dedo me acusando - deixa esse garoto de lado um pouco.
Demora para responder as mensagens, fala que está aproveitando muito a Bahia,
que conheceu um monte de gente bacana... Tipo, você continua tratando esse tal
Edu com todo carinho e atenção. Mas dá um jeito de mostrar que se ele não se
cuidar, a fila anda... – mexeu as mãos como quem diz “perdeu, playboy” – Se
mesmo assim ele der um jeito de puxar assunto querendo saber como está a
viagem, ou se curtir suas fotos no Instagram, ou, melhor ainda, demonstrar
algum tipo de ciúme, PÁ! Ele está afim...
- Será? – eu começava a considerar a hipótese.
- Aposto com quem quiser, Gabi. É infalível – ela
garantiu com um sorriso convencido no rosto.
- Então “bora” tentar” – resolvi arriscar. Afinal
de contas, o Alê sempre me ensinou que, se vai pedir truco, pede logo seis. E eu
já tinha pedido truco na festa do Gueto. Agora era hora de dobrar a aposta.
- Então, já era! – ela tomou o celular da minha mão
– Só vou dar um tchau aqui para ele e falar que vamos curtir o luau que vai
rolar daqui a pouco na praia. E aí, vamos deixar esse mocinho refletindo um
pouco sobre o que ele quer da vida – a carioca piscou para mim antes de começar
a digitar na tela do meu iPhone. Depois ela colocou o celular no bolso e ficou
de pé - E aí? Bora dar uma volta no hotel antes de ir para o luau?
Levantei com um sorriso confiante no rosto – Vamos!
– confirmei com uma gostosa sensação de que tudo ia dar certo.
***
Os dias na Bahia foram incríveis. Como me
prometera, a Raíssa me ajudou a fazer stand up. No começo demorei para ficar em
pé na prancha, mas bastou um pouco de prática para pegar o jeito da coisa.
Eu e a Rá passávamos quase o dia inteiro na água,
praticando. Sempre que estava na água eu pensava no Edu. Agora eu entendia
porque ele tinha tanto fascínio pelo mar. Era uma energia incrível ficar em
contato com a natureza, só sentindo o movimento da maré...
Só voltávamos para o hotel quando o sol esquentava
muito. Nessas horas deitávamos na beira da piscina, pedíamos uma água de coco e
ficávamos só espiando os “gatinhos”. A carioca acabou me contando que também
tinha um “rolo” bem complicado na escola. Ela era louca por um garoto, mas o
cara tinha namorada. Bem tenso!
Falando em “rolo”, o plano da minha nova amiga
estava dando certo. O Edu ficava inventando assunto no Whats, só para poder
puxar papo. Só para provocar, pedi para minha mãe tirar várias fotos minhas
fazendo stand up e publiquei algumas no meu Instagram. Queria que ele visse que
não estava brincando quando disse que toparia ir para a praia ao seu lado. E,
claro, também queria deixar as recalcadas da Mari e Nathy ainda mais loucas de
inveja...
Dona Beatriz acabou ficando amiga dos pais da
Raíssa, o que nos aproximou ainda mais. Quase todos os dias nós duas ficávamos
acordadas até tarde curtindo as atividades do clube. Além do luau, participamos
de uma festa à fantasia e de um show de micareta de uma banda local. Voltávamos
para o quarto só para tirar um cochilo e no dia seguinte, logo de manhãzinha,
já estávamos na praia. Era uma delícia! Fazia anos que não ficava tão bronzeada
daquele jeito.
Mas como tudo que é bom dura pouco, a quarta-feira
de cinzas chegou para colocar fim no meu “conto de fadas”. Quando me dei conta,
já estávamos no aeroporto deixando aquele refúgio de alegria para trás.
Dormi quase durante toda a viagem de volta. Só
acordei quando estávamos prestes a aterrissar em São Paulo. Ao olhar pela
janela, as nuvens cinzas que envolviam a cidade foram um verdadeiro choque de
realidade. Depois de dias de muito sol na Bahia, ver o clima fechado e pesado
na capital paulista era como se alguém quisesse me dar um aviso “o tempo bom
acabou. Agora é hora de voltar para a sua realidade”.
E a minha realidade era a excentricidade do Edu, a
“trairagem” da Mari, dieta, ensaios, escola e deveres. Realmente nada
animador...
Chequei meu celular assim que desembarquei. Eu
havia comentando com o carioca que chegaria naquela tarde. Tinha esperanças que
ele pedisse para me ver, mas o primo do Alê apenas me desejou boa viagem. Senti
meu estômago afundar. Será que o plano da Raíssa não daria certo?
Resolvi especular o que acontecera na minha
ausência com a Carol. Como estava me esforçando para não responder o Edu,
acabei ficando distante das redes sociais durante a viagem. Eu precisava de uma
atualização geral para poder definir os meus próximos passos.
“Cááá, cheguei!
Acabo de desembarcar na Terra da Garoa. Estou pegando o táxi para GMA.”
Digitei usando a abreviação do nome da nossa
cidade.
“Ebaaa!
Estava com saudades, Gabs”.
A Carol, como sempre, estava online no Whats.
“Eu também! Aliás,
quero relatório completo. Como estão as coisas?”
“Ai Gaaabs... Não
vão nada bem. Você não vai gostar do que tenho para te contar”.
Respirei
fundo me preparando para o que estava por vir. Pelo visto, a quarta-feira
realmente seria de cinzas.
__________________________
Notas
finais: Curiosas para saber
o que vai acontecer? Ok, como sou muito boazinha, eu conto:
- Vai rolar conversa “face to face” entre Gabi
e Mari. É genteee, forninho vai cair! Gabs vai colocar a traíra da Marília
contra a parede!
Quem vence esse duelo? E de que lado o Edu
vai ficar?
Cadê vocêeeeeeeee? quero maisssssssssssss
ResponderExcluirisso tá muito bommmm
@somosluanetes_
Você chamou e eu apareci! hahahaha
ExcluirCapítulo 15 acaba de ser postado! Corre pra ler que tá babado!
Agora falando sério: desculpa a demora. É que está corrido aqui pra mim. Mas estou fazendo o possível para não atrasar muito as postagens.
Beijo e muitoooo obrigada por ler e comentar. <3