quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Capítulo 29 - Colcha de retalhos

Notas iniciais: Hey, gurias!

Último capítulo da segunda fase! Uhuuuuu! E para fechar com chave de ouro, adivinhem só: vai ter babado, confusão e gritaria. Eita que a festa do Caio vai render!
____________________________________________

Fechei os olhos e prendi a respiração para evitar que as lágrimas que inundavam meus olhos viessem a cair. Eu não queria chorar, porque sabia que se começasse não iria conseguir parar.

As imagens de tudo o que acontecera com o Edu se misturavam com as recordações que tinha do Léo, fundindo tudo em um único acontecimento e me confundindo ainda mais. Tive a velha impressão que estava me afogando, dessa vez mergulhando mais fundo em um mar escuro.

Foi aí que me lembrei do conselho do meu pai: não nade contra a maré.

Voltei a respirar, puxando o ar rapidamente como alguém que acaba de voltar a superfície. Eu precisava organizar meus pensamentos e sentimentos, senão não conseguiria voltar para a festa.

As palavras do Alê voltaram à minha cabeça. Se antes eu já sentia que ele estava certo, agora não me restava a menor margem de dúvida. Eu realmente estava dando importância demais àqueles garotos.

Apoiei as mãos na pia e encarei minha imagem no espelho. A conversa com meu pai, que inicialmente não dei a mínima importância, começava a fazer sentido.

“O que você quer, Gabriela?”

Repeti a pergunta do meu pai em voz alta. Naquele momento, a principal emergência era não me machucar mais. Eu conhecia o fundo do poço e agora que tinha começado a sair dele, não poderia voltar a cair. Ou pior: descer ainda mais fundo.

Abri a torneira e passei um pouco de água na nuca. Minha vontade era lavar o rosto, mas não queria borrar a maquiagem. Seria péssimo voltar à festa parecendo um panda.

Fui repetindo aquele gesto até a água fria me trazer de volta à realidade. A vantagem de ter todos os seus fios arrebentados uma vez é que ficava mais fácil remendá-los, tipo uma colcha de retalhos. Por mais que eu ainda tivesse muitas feridas abertas no meu coração, algumas cicatrizes me deixaram mais fortes para encarar aquele momento.

Relembrei tudo o que aconteceu comigo desde que a Mari espalhou o boato na escola: eu encontrei pessoas bacanas que me gostavam de mim do meu jeito, sem a máscara que costumava usar com a nobreza, aprendi que não adiantava fugir e que, se eu não era, poderia fingir – e muito bem. Prova disso era o Jogo do Engana Trouxa.

Voltei a fechar os olhos, mas dessa vez para procurar por um personagem. Eu precisava de alguém dissimulada o suficiente para encarar o Léo junto com a Vanessa e ainda ser capaz de elogiar o casal. Abri os olhos e sorri de modo irônico para o espelho. Eu precisava ser a Mari.

Assumi a minha melhor postura de nobreza e sai do banheiro disposta a segurar firme os fios que ainda me restavam.

- Orra Gabi, demorou no banheiro, hein? Está com dor de barriga, é?  – Caio brincou.

- Só se for de indigestão por ficar perto de certas pessoas – retruquei com aquele jeito típico das insuportáveis – Era brincadeira, querido – pisquei para ele ao ver sua cara de espanto por causa da minha resposta – Ai gente, cansei de jogar... Vamos beber alguma coisa?

- Cansei também... Acho que podemos considerar empate, né? – a Laís disse, ficando de pé ao meu lado.

Claro que meu parceiro não deixou por menos e fez questão de contar e recontar todos os pontos da partida. Enquanto os dois discutiam qual dupla tinha vencido, vi o Alê me olhar com cara de interrogação. Apenas levantei uma sobrancelha e mexi a boca formando a palavra “jogando”.

O skatista inclinou a cabeça confuso, mas antes que pudesse pedir mais detalhes, o Gustavo se aproximou de onde estávamos.

- Gente, o Léo voltou com a namorada? – o moreno foi direto ao assunto. O tom de surpresa na sua voz indicava que eu não era a única que esperava ver o cabeludinho chegando sozinho à festa.

- Pelo jeito, sim... – o Caio deu de ombros – Mas eles vivem se desentendendo, então nunca dá para saber quando estão juntos ou separados.

- Na boa, o Léo nunca vai largar dessa menina. Ele vive reclamando, mas no fundo gosta da chatice dela – a Laís deu sua opinião carimbando, mesmo que sem querer, o selo de trouxa na minha cara. Me senti uma completa idiota por ter cogitado uma hipótese diferente.

- Então foi por isso que você desistiu de correr atrás dele? – Gustavo perguntou à Laís com um quê de provocação na voz.

A morena riu da piada, sem perder a pose – Pois é... Vi que ali não tinha futuro. Léo é muito esperto, mas quando se trata de namoradas... – completou a frase mexendo a boca e a cabeça, como se indicasse uma situação que não tem mais conserto.

Respirei fundo, lutando para manter o meu papel de superior. Por dentro eu estava um caco, mas por fora parecia a garota mais animada do local.

- Mudando de assunto, alguém sabe quem é aquela loira ali? Aquela que está rodeada de garotas, parecendo a estrela da festa? – o garoto quis saber, apontando discretamente para o seu lado direito.

- É a Marília - respondi revirando os olhos.

- Pela sua cara percebe-se que ela não é a sua melhor amiga - o garoto comentou com jeito de "sabichão".

- Pior que já foi, hein... - Alê falou deixando todo mundo intrigado.

- A Marília era a minha melhor amiga, mas um belo dia ela acordou e resolveu que ia jogar o cara que eu gostava pra cima de outra menina e depois espalhar um boato ridículo sobre mim para a escola inteira - resumi, me esforçando para parecer indiferente.

- Nossa, que cobra - Laís lançou um olhar venenoso na direção da loira.

- Cobra ou não, ela não para de jogar charme pra cima de mim – o Gú se gabou.

- Huuum... Você poderia me ajudar a dar o troco nela, né? - pedi abrindo um sorriso mal-intencionado.

- Isso! Finge que você está ficando o Gú e se exibe na frente dela. Certeza que ela vai ficar puta da vida - no que dizia dar o troco em uma pirigueti que mexeu com o que era nosso, mulheres sempre se entendiam.

- Garotas... - Alê mexeu a cabeça achando graça da ideia.

- Eu topo! Mas acho que não é só essa tal Marília que vai ficar enciumada - Gú olhou de relance para o Caio, que assistia a cena em silêncio - Vem, Gabs. Vamos colocar fogo nessa festa.

Uma musica eletrônica animava a pista de dança improvisada onde se via um grupo de garotas e garotos dançando bem animados.

Gú foi pegar uma Skol Beats para nós e fiquei me perguntando se os pais do Caio tinham liberado a bebida. Conhecendo o aniversariante como eu conhecia, seria capaz de jurar que ele tinha inventado algum “câo” para conseguir a liberação.

- Usamos o mesmo esquema que vocês usavam para conseguir as bebidas: pedimos para a empregada comprar. Os pais do Caio saíram, mas voltam ainda hoje. Então, beba tudo o que tem para beber agora, porque quando eles aparecerem já era - o moreno me informou quando voltou com duas latinhas na mão respondendo minhas dúvidas.

- Sabia que tinha algum truque - comentei dando um gole na bebida. Apesar de forte, o sabor era doce, do tipo que você bebe e nem percebe.

Senti o Gustavo colocando a mão na minha cintura me puxando para mais perto. Ele colocou uma de suas pernas entre as minhas e começou a se mexer no ritmo da batida, me levando a fazer o mesmo.

Em poucos instantes estávamos bem entrosados, as mãos levantadas curtindo a música e os rostos bem perto um do outro. Aliás, daquele ângulo dava para entender porque a Mari estava afim dele. Sua pele morena, quase negra, destacava seu belo sorriso. Isso sem falar na ginga que o rapaz tinha. Ele dançava como ninguém e, às vezes, dava umas reboladas capazes de tirar o fôlego de qualquer garota. Em uma palavra, ele era sexy.

Continuamos bebendo e brindando, e não demorou para a Skol Beats começar a fazer efeito. Mesmo com a cabeça rodando um pouco, consegui localizar a Mari parada perto da piscina, olhando a cena com cara de poucos amigos.

Do outro lado, perto das mesas, Léo e Vanessa acompanhavam o movimento da pista sentados e comendo churrasco. Eles não pareciam o casal mais apaixonado do mundo e peguei o cabeludinho me olhando mais de uma vez.

Fiquei olhando para aquela menina sem sal e sem açúcar enquanto meu monstrinho interior fazia questão de tripudiar em cima da situação.

“Mas o que aquela magricela, loira oxigenada tem que você não tem? Ela nem é bonita! E o que é aquela cara de mosca morta?” Ele não parava de ficar colocando defeitos, o que só me deixava mais na “bad. Afinal, se a Vanessa era tão ruim assim, porque o Léo estava com ela e não comigo?

- Acho melhor você parar de olhar... – o Gú sussurrou no meu ouvido.

Abaixei a cabeça, sem graça. Com certeza ele tinha percebido. Tentei disfarçar, mas não tive muito sucesso. Para minha sorte, bem nessa hora resolveram trocar a trilha sonora da festa para funk. A música da Anitta tomou conta do local, levando muitas meninas para a pista.


- “Deixa ele chorar, deixa ele sofrer, deixa ele saber que você está curtindo pra valer” – ele cantou pra mim, mudando a letra de propósito.

Sorri para o meu parceiro, me animando novamente. Com a batida da música bem agitada, soltamos mais os nossos corpos, ele rebolando de leve e mordendo os lábios para me provocar.

Me deixei levar pela letra e pelo ritmo do moreno na minha frente, me sentindo a “rainha da festa”. Mesmo de longe eu sentia o olhar de inveja que a Marília lançava na minha direção.

O Gustavo colocou a mão na minha nuca, levantando meu cabelo e causando um arrepio que desceu por todas as minhas costas. Senti ele me apertar de leve na região da cintura, chegar ainda mais perto e roçar o nariz no meu, apenas alguns centímetros separando as nossas bocas.

Fechei os olhos e deixei que a situação rolasse. Já estava cansada de ter que me preocupar com o que os outros iriam pensar. A sensação de liberdade que tomou conta de mim foi incrível. Estava tão leve que seria capaz de voar se o Gustavo me soltasse. Porém, ele fez o contrário. Seu beijo começou lento, como se estivesse pedindo permissão para seguir adiante. Ele foi me envolvendo aos poucos, exigindo cada vez mais de mim até que eu estivesse com os braços ao redor do seu pescoço, completamente entregue, e suas mãos bailassem pelas minhas costas e braços em movimentos sedutores.

Depois de todos os problemas com o Edu e da decepção com o Léo, era bom viver algo assim: fácil e simples, sem grilos.

- Você é linda, sabia? – ele falou, passando a mão de leve no meu rosto.

Abri um sorriso, feliz com o comentário. Eu sabia que o elogio era só para me bajular, mas me permiti curtir a vaidade do momento. Afinal, não era todo dia que eu podia exibir um dos caras mais bonitos da festa na pista de dança.

Continuamos juntos, dançando e brindando, a bebida diminuindo cada vez mais a minha timidez. Fazia tempo que eu não sabia o que era me divertir tanto assim.

- Nossa, preciso ir ao banheiro. Estou suando, minha maquiagem já deve estar derretendo – comentei usando as mãos para me abanar. Minha cabeça girava por causa da bebida e precisei do dobro de esforço para me manter de pé.

- “Tá” nada, está ótima! – ele sorriu de um jeito sedutor.

- Já volto! – dei um selinho nele e saí. O toalete ficava um pouco afastado da agitação da festa e, como não tinha muita luz, alguns casais estavam por ali aproveitando da “privacidade”. Uma parede separava a entrada do banheiro do resto do local, formando uma espécie de corredor de proteção. No final, um lavatório com um espelho com moldura de prata muito bonita decoravam o espaço. E ali, retocando a maquiagem, estava a pessoa que eu menos queria encontrar: Vanessa.

Ela conversava com uma amiga e o assunto era, para meu total azar, o Cabeludinho.

- Nossa, estou tão feliz! Eu e o Léo estamos em uma fase ótima.  Precisa ver como ele está fofo comigo – seu sorriso de orelha a orelha fez a minha autoconfiança vacilar. Será que meu “sócio” esteve mentindo pra mim esse tempo todo?

Disfarçadamente, dei meia volta para sair dali, mas era claro que o meu azar não ia se limitar apenas àquela situação. Nem cinco segundos depois, vi a Mari caminhando na minha direção junto com a Carol. Acabei ficando onde estava, parada na entrada do pequeno corredor que dava acesso à porta do banheiro.

- Às vezes, eu tenho vontade de olhar para certas pessoas e falar “amiga, para porque está feio” – a loira disse lançando um olhar bastante significativo na minha direção.

Fiz a minha melhor “poker face” e fiquei ali, disposta a ver até onde ela iria. A Carol apenas deu um sorrisinho amarelo, parecendo pouco disposta a participar da conversa.

- Porque tem gente que não se toca, né? Acha bonito ficar de pegação no meio da pista de dança... – reconheci o cinismo, típico da minha ex amiga.

- E tem gente que acha bonito ficar tomando conta da vida dos outros – falei, a bebedeira me dando uma dose extra de coragem.

Pelo canto do olho vi a expressão de furiosa da Marília.

- Está falando comigo, querida? – perguntou, o sarcasmo escorrendo pelos seus lábios.

- Eu? Não, imagina! – fui tão falsiane quanto ela.

- Meninas, vou até o banheiro – a Carol anunciou, afastando-se de nós. Pela sua cara, ela não fazia a mínima questão de ficar para ver a briga.

- Sabe Gabi, se está falando isso porque eu falei que você não combinava com o Edu e ajudei a Nathália ficar com ele, saiba que fiz isso para o seu bem. Ele não combinava com você – sua expressão era a de quem se sentia a dona da verdade.

- Não sabia que você era expert no assunto, Marília – me mantive no meu personagem, mesmo que estivesse morrendo de vontade de dar na cara dela.

- Só estava te protegendo, Gabi. Ele já tinha comentando comigo que não queria nada com você. Desde o início o Edu estava de olho na Nathália. Só você que não percebeu isso – deu de ombros como se estivesse explicando algo óbvio.

- Vamos, Mari? – a Carol apareceu do nosso lado com o batom retocado.

A loira me lançou um último olhar, o qual eu sustentei sem me deixar abalar. Ela virou as costas e já ia saindo quando a chamei novamente.

- A única coisa que eu não percebi era o quanto estava errada a seu respeito – disse, sentindo o desprezo escapar pelos meus lábios.

Ela fixou seus olhos azuis em mim e, por um segundo, eles me disseram que, na verdade, sentiam muito e sentiam minha falta. Mas no instante seguinte, eles retornaram a sua frieza habitual.

Fui até o banheiro, tranquei a porta e encostei as mãos na parede. Minha cabeça rodava e eu já não sabia mais se era por causa do excesso de bebida ou de sentimentos para lidar. Eu me sentia cheia de mais e só conhecia uma maneira de me esvaziar.

Coloquei o dedo na garganta e senti que junto com as Skol Beets a mais, iam também minhas mágoas, tristezas e decepções.

Quando terminei, caí no chão e o último pensamento que tive foi de segurar bem firme os fios que ainda me restavam.
_________________________________
Notas finais: Uhuuuuuu! Nem acredito que chegamos ao final da segunda fase! Vivaaaa!

AMEI Gabi dando uma sambadinha de leve na cara da Mari e do Léo! Bem que eles mereciam, né?

E isso é só o começo, viu? Daqui pra frente Gabi vai, digamos, que renascer. Curiosas pra saber o que vai acontecer?

A gente se vê no próximo cap. Beijo grande e se cuidem!

*** Bora para o próximo capítulo? Então clique aqui



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Oiieeee.... xD

Espero que esteja curtindo a fic!
Se estiver, não deixe de "perder uns minutinhos" para me contar a sua opinião, registrar o seu surto ou apenas para dar um oi! E se não estiver curtindo, aproveite o espaço para "soltar o verbo" e falar o que te desagradou!

Uma história não existe sem leitores! São vocês que me dão forças para continuar escrevendo e caprichando cada vez mais em cada capítulo! Portanto, deixe de "corpo mole" e venha "prosear" sobre as fics comigo e com as outras meninas que passam por aqui! *-*

Cada comentário ilumina muito o meu dia! Não deixe de fazer uma quase-escritora feliz: Comente! *-*

E não esqueça de deixar o seu nome, ok?!