Notas iniciais:
Capítulo demorou, mas saiu! Aleluia!
E
ó, como diz o título, está inflamável. Espero que gostem!
_______________________
Nervosa.
Era assim que eu me sentia. Ok que eu estava decidida a não ser mais uma pessoa
tão frágil, mas a primeira prova de fogo precisava vir assim, tão rápida?
Saber
que o Edu iria ao show e ficaria no mesmo camarote que eu mudou completamente
os meus planos. A ideia era ir, assistir ao show, me divertir, dançar...
Resumindo: aproveitar o momento e esquecer um pouco da vida. Porém, enquanto me
arrumava, a única certeza era de qual roupa usar: camisa jeans com as mangas
dobradas e alguns botões abertos, saia preta assimétrica e bota de cano baixo
da mesma cor. A Laís me incentivou a fazer uma make mais suave nos olhos e
ousar no batom escuro e estava decidida a seguir os conselhos. Vinho foi a cor
escolhida para a ocasião.
Fiquei
pronta cinco minutos antes, o que era praticamente um milagre. O combinado era
ir até a casa do Alê e pegar uma carona com ele. Dessa vez dona Melissa não
tinha liberado o carro. Ela nos levaria até a porta do show e voltaríamos de
táxi.
Fiquei
sentada em frente ao espelho tentando imaginar como seria esse reencontro. Eu
deveria ser simpática? Deveria me fazer de “otariane” e fingir que nada
aconteceu? Deveria ignorá-lo? Para complicar, eu ainda tinha que ajudar a Laís
e o Alê a fazer as coisas do “jeito tradicional”.
Ai,
Deus! Como lidar?
Respirei
fundo para tentar me acalmar. Olhei mais uma vez meu reflexo no espelho.
Aquelas eram as perguntas que a antiga Gabi faria. Mas e a nova Gabi, aquela
que não tinha mais medo de se quebrar, como ela agiria?
Levantei,
decidida e sai do quarto. Gritei um tchau para dona Beatriz apenas para manter
o costume e fui para casa do Alê. Cheguei lá de cabeça erguida e confiante. A
nova Gabi não tinha mais medo do que aconteceria, porque sabia que o mais
importante não era impedir a queda e, sim, ter força para se levantar. E isso
estava mais que provado que eu tinha.
-
Que milagre! Gabriela Navarro está pronta no horário! – o skatista já abriu a
porta fazendo gracinha.
-
Deixa de ser chato, garoto! – falei enquanto entrava na sala.
-
Nossa, como ela está linda! Adorei, Gabi! – dona Melissa me elogiou quando fui
cumprimentá-la – Não está maravilhosa, meninos?
-
Está mesmo – ouvi uma voz conhecida concordando.
-
Oi, Edu! Tudo bem? – cumprimentei de longe com um meio sorriso no rosto.
-
Tudo certo – respondeu também com um sorrisinho sem graça no rosto.
Bom,
para um primeiro contato, estava ótimo! Educada e cordial na medida. Só poderia
torcer para que o resto da noite continuasse do mesmo jeito...
-
E aí, vamos logo? – Alê começou a acelerar todo mundo, como sempre.
-
Nossa, tá ansioso para o show, né? Por que será? – foi a minha vez de provocar.
-
Bonequinha, lembra que você está no meu camarote. Melhor você me respeitar,
hein? – ele se fez de bravo tentando me assustar.
-
Ai Gabi, nem liga! O camarote é meu também, caso meu filho querido tenha
esquecido. E você é minha convidada de honra – dona Melissa piscou para mim – E
agora vamos, antes que o Alexandre tenha um enfarte. Olha, depois quero saber o
motivo de tanta pressa, viu?
-
Não sei porquê, mas acho que esse motivo tem nome, sobrenome e, inclusive,
estará nesse show hoje – Edu disse de modo despretensioso.
-
Digo mais, o motivo estará no nosso camarote – completei.
-
Por isso que ele se arrumou todo hoje – o primo continuou a falar, mexendo as
mãos como alguém que joga uma ideia no ar para ver se alguém concorda.
-
Hmmm.... sabia que aí tinha coisa! Meu filho nunca usa camisa – dona Melissa
entrou na brincadeira.
-
Nossa, mãe! É só uma camisa xadrez – meu amigo se defendeu.
-
Ah, não! Tem alguma coisa diferente aí. O look está todo estiloso – falei
depois de reparar melhor no visual do meu amigo: por baixo da camisa xadrez vermelha
e branca estava uma camiseta também branca, calça jeans escura e um coturno
preto com a barra da calça por dentro. O cabelo estava penteado e jogado para o
lado e o seu fiel parceiro, o boné, fora deixando de fora de lado dessa vez.
-
Ai gente, parem de cuidar da minha vida e vamos logo – ele voltou a nos
apressar, o rosto vermelho de vergonha.
É
claro que a zuera não parou por aí. Continuamos provocando o Alê durante todo o
caminho. Só paramos quando chegamos no recinto do Guararema Fest Show. De
longe, a estrutura dividida em duas partes impressionava. A primeira tinha uma
tenda onde duplas sertanejas se revezavam para animar o público. Também por ali
estavam as barracas de bebidas e comidas, banheiros e pontos clássicos que não
podem faltar, como achados e perdidos, enfermaria e etc. Tudo estava muito bem
organizado, com bastante espaço para o pessoal circular, algumas mesinhas
estrategicamente posicionadas e seguranças circulando.
Passando
essa parte, dois corredores laterais davam acesso a uma arena circular, cercada
do lado direito por arquibancadas e do direito pelos camarotes. O palco ficava
ao fundo, com iluminação e efeitos típicos de show. Nele, um DJ animava o
público tocando músicas do tipo sertanejo enquanto o pessoal se divertia na
pista.
Seguimos
direto para o nosso camarote subindo por uma escada situada na lateral. Um
segurança verificou as pulseiras que o pessoal da entrada colocou nos nossos
pulsos quando entregamos nossos convites VIP’s e liberou nosso acesso. Seguimos
por um corredor até o espaço reservado para nós. Para a nossa sorte, ficamos
perto do palco e do bar que atenderia apenas aquela parte. Claro que não
tínhamos permissão para beber, mas o Alê sempre conseguia dar um jeito nisso.
Não
demorou muito o Fer chegou acompanhado da Rebeca. Miguel e Laís chegaram um
pouco mais tarde, quando a pista já estava bombando.
-
E então, qual é o plano? – perguntei para a Laís na primeira oportunidade.
-
Estou aberta a sugestões – respondeu com cara de quem não sabia o que fazer –
Acho que sempre fiz as coisas do jeito errado, porque agora não sei como fazer
certo...
Precisei
me segurar para não rir do comentário. A situação seria extremamente engraçada
se não fosse pela expressão de preocupação no rosto dela.
-
Calma, amiga! Você não disse que só precisava dançar com ele? – tentei
confortá-la. Ver uma garota como a Laís sem saber o que fazer era, de certa
forma, tranquilizador. Se até ela enfrentava esse tipo de crise, talvez eu não
devesse me importar tanto.
-
Sim, mas não sei se você notou, mas até agora ele não falou comigo... –
retrucou.
Lancei
o olhar na direção do meu amigo que estava conversando com o Fernando e o
Miguel. Apesar de disfarçar bem, eu conhecia o Alê bem o suficiente para saber
que ele estava nervoso. O skatista estava inquieto, mexendo no cabelo a toda
hora.
-
Calma, acho que já sei o que fazer – disse – Vem cá.
Respirando
fundo, fui até o carioca, que estava na beirada do camarote observando o DJ e a
pista junto com a Rebeca.
-
Edu, preciso da sua ajuda – disse, parando ao seu lado. A Laís ficou perto de
mim, prestando atenção.
-
Ajuda? Para quê? – pelo seu tom de voz deu para perceber que ele estava mais
surpreso por eu ter ido falar com ele do que com a minha pergunta.
-
Sabe a zuera que fizemos lá na casa do Alê? Sobre a razão dele estar tão
arrumado ter nome e sobrenome... – ele assentiu com a cabeça antes de eu
continuar – Então, te apresento o motivo daquele cabelo tão bem penteado –
apontei para a morena ao meu lado.
-
Prazer, Laís – ela acenou com a mão em um gesto afetado.
-
Bom, isso eu já desconfiava. Mas para quê, exatamente, vocês precisam da minha
ajuda? - o carioca ergueu as
sobrancelhas, confuso.
-
Olha bem para Alê – pedi com a voz séria – Você acha mesmo que ele está a fim
de colaborar com a gente?
O
Edu lançou um longo olhar na direção do skatista, como se estivesse o analisando.
Depois balançou a cabeça com jeito de decepcionado – É.... meu primo não tem
muito jeito para essas coisas...
-
E como a gente faz para trazer essa pobre alma para a luz? – lancei um olhar de
esguelha em direção ao nosso “problema”.
-
Primeiro, vamos animar esse camarote. Isso aqui está muito parado, né? – o
carioca declarou com a voz decidida – Ôoouu Alê, que festa é essa que não tem
uns petisquinhos, umas bebidinhas... ?
-
É só pedir, Eduardo! – o outro gritou em resposta.
-
Então chega mais, vamos ver o que o pessoal quer.
Todos
se juntaram perto da borda do camarote e demos início a uma pequena discussão
para decidir entre as opções do cardápio. Como não tínhamos ninguém mais velho
para comprar bebida para nós, precisamos nos contentar com sucos e refrigerantes
mesmo – o que, no fundo, nem achei tão ruim assim. Depois da festa do Caio eu
estava querendo evitar álcool, nem que fosse só por um tempo.
Fizemos
o pedido para um dos garçons e, poucos minutos depois, as bebidas, junto com
uma porção de fritas gigante chegou para animar a galera. O pessoal se reuniu
em torno de uma mesa que já estava por ali e a comida ajudou a quebrar um pouco
o gelo. As brincadeiras e conversas começaram e vi meu amigo ir relaxando aos
poucos. Claro que a Laís não perdeu a oportunidade e se aproximou, usando todo
seu charme a seu favor. Aquela ali não brincava em serviço...
-
Quando o show começar a gente dá o empurrão final – ouvi uma voz bem próxima ao
meu ouvido. Surpresa, senti um calafrio percorrer o meu corpo. Com um movimento
rápido, virei e dei de cara com o Edu bem ao meu lado.
-
O que está planejando? – perguntei, torcendo para ter conseguido disfarçar
minha reação.
-
Espera só... – ele piscou e se afastou com um sorrisinho torto nos lábios.
“Edu
e seus mistérios”, pensei comigo. Mas, por mais que eu já conhecesse o jeito do
carioca, eu simplesmente não consegui deixar a minha curiosidade de lado.
Fiquei encucada, tentando entender o que ele pretendia com aquele enigma.
Quando
o lugar ficou realmente cheio, o tal narrador de rodeio que o Alê comentara
apareceu para animar ainda mais a noite.
-
O que essa noite vai ser? – ele perguntava no microfone enquanto todo o público
respondia em um só coro.
– In-fla-má-vel!
Junto
com o DJ, vários efeitos sonoros e de luz, o Vermelhinho fez a pista “ferver”.
Ele animava a galera e de tempos em tempos fazia todo mundo repetir o seu
famoso bordão. Talvez fosse o clima contagiante, mas me vi tão empolgada com a
brincadeira que, ao gritar Inflamável, eu erguia os braços para o ar como se
estivesse entoando um grito de guerra. A energia do lugar estava incrível e
toda a agitação do locutor fez que a nossa turma ficasse ainda mais empolgada.
Até o Edu estava mais solto, sem a sua tradicional pose de garoto-enigma.
Quando
uma gritaria anunciou o começo da apresentação, fiquei ainda mais alerta nos
movimentos do Edu. Assim que o Jorge e o Mateu subiram ao palco todos os meus
amigos se reuniram na borda do camarote para ver o show. Durante as primeiras
músicas, todos ficaram ali comentando sobre a apresentação e curtindo o som da
dupla. Aos poucos a atenção foi dispersando e as conversas e zueras
recomeçaram.
Foi
nessa hora que o carioca puxou a Laís pelo braço e a tirou para dançar. Os dois
rodopiavam pelo espaço em uma sintonia perfeita. Eu estaria encantada de
assisti-los se meu “monstrinho” interior não resolvesse aparecer bem naquela
hora.
“Sério mesmo que ele vai
ficar com outra amiga sua bem na sua frente?”.
Olhei
para o Alê que encarava a cena com jeito de quem não estava entendendo nada. Ao
perceber minha expressão, ele deu de ombros, tentando voltar a prestar atenção
no show, mas sem muito sucesso.
Aos
poucos o resto do pessoal foi se soltando. Miguel e Fernando foram para a
“pista” de dança enquanto a Rebeca se empenhava em cantar todas as músicas em
alto e bom som e tirar muitas fotos. Fiquei ao lado dela, dançando e curtindo,
tentando me divertir sem dar ouvidos para o “monstrinho” que insistia em não ir
embora.
Em
um determinado momento, o Fernando puxou a Beca para dançar e o Miguel ficou ao
meu lado, os dois rindo de como a nossa amiga era “durona”. Estava distraída
quando a introdução de uma das músicas despertou minha atenção.
Link
para música - https://www.youtube.com/watch?v=ICS6uKC93w0
No primeiro instante,
vi que era amor
No momento em que a gente se encontrou
No segundo instante, vi que era você
Já te amo tanto sem te conhecer”
No momento em que a gente se encontrou
No segundo instante, vi que era você
Já te amo tanto sem te conhecer”
Assim
que reconheci os versos foi inevitável não procurar pelo Eduardo. Nossos
olhares se cruzaram e eu poderia jurar que vi um brilho diferente naquele
oceano verde tão misterioso.
Ainda
dançando, ele se aproximou de mim.
-
Vem, vamos ver se a bailarina sabe dançar mesmo – disse, pegando meu braço –
Primo, acompanha a Laís – emendou, entregando a mão da moça na mão do skatista.
Foi
tudo tão rápido que, quando me dei conta, estava rindo da expressão de surpresa
do Alê. Era óbvio que ele não tinha a mínima ideia de como conduzir a garota,
mas ela foi esperta e não deu tempo para que ele pensasse. Puxou o seu braço
livre e colocou na sua cintura enquanto o levava para a pista de dança. Fiquei
um tempo sorrindo ao assistir a Lá ensinar o famoso “dois pra lá e dois pra cá”
para o meu amigo que, nitidamente, estava se esforçando para acompanhá-la da
melhor maneira possível.
-
Não falei que na hora do show a gente ia dar o empurrão final? – o Edu chamou
minha atenção, me puxando para um pouco mais perto. Nós dois dançávamos no
mesmo ritmo da noite na frente da minha casa, meu corpo acompanhando seus
movimentos sem nenhum esforço.
-
Quer dizer que você fez tudo isso de propósito? – levantei as sobrancelhas,
duvidando.
-
Tudo friamente calculado – ele sorriu, antes de erguer o meu braço e me girar.
Quando terminei a volta, ele me segurou firme pela cintura me fazendo ficar
cara a cara com ele – “E os anjos cantam
o nosso amor, ôuo, ôuo, ôuo...”.
Não sei se foi a música ou a situação, mas para mim foi como
se estivéssemos vivendo um déjà vu.
Meu coração disparou e cada parte de mim parecia consciente daquele momento,
cada célula e músculo absorvendo a adrenalina e a expectativa.
Continuamos dançando, a tensão entre nós crescendo como se
estivéssemos em uma bolha só nossa.
- Me tirar para dançar justamente nessa música também foi um
movimento friamente calculado? – perguntei na cara de pau, me surpreendendo com
a minha própria ousadia.
- Pode-se dizer que sim – seu sorriso provocador não deixava
dúvida que tudo fora perfeitamente arquitetado.
Fiquei encarando aquele belo par de olhos verdes como se
estivesse encantada por um feitiço.
- Não gosto quando você me olha assim – ele olhou para o
outro lado, quebrando o contato visual.
- Por que? Qual o problema? – franzi a testa, curiosa.
O carioca parou de dançar e me encarou como se estivesse
ponderando se deveria responder a pergunta. Depois de respirar fundo, senti sua
mão me puxando na sua direção e a sua boca se aproximando do meu ouvido -
Quando você me olha assim parece que consegue ler até a minha alma – falou com
a voz rouca.
- Medo de eu descobrir algum dos seus segredos? – provoquei.
- Talvez você já saiba todos eles... – mexeu no cabelo com a
mão livre, o ar de mistério deixando-o ainda mais sexy.
- E agora é hora do nocaute – um dos cantores anunciou no
palco antes de puxar a introdução de outra música com uma pegada bem romântica.
Link para música - https://www.youtube.com/watch?v=EhlhRIJygPM
“Olha aí o mundo girando
E a gente se esbarrando outra vez
Olha aí o meu coração indo contra a razão
Sentimento não se desfez
Recaí quando te vi a paixão veio à tona
Fui a nocaute, beijei a lona
O meu corpo tremeu
O tempo passou, a vida mudou
Mas eu continuo seu...”
E a gente se esbarrando outra vez
Olha aí o meu coração indo contra a razão
Sentimento não se desfez
Recaí quando te vi a paixão veio à tona
Fui a nocaute, beijei a lona
O meu corpo tremeu
O tempo passou, a vida mudou
Mas eu continuo seu...”
Precisei de poucos segundos para entender o nome da canção. Os
versos me atingiram como se fosse um soco no estômago. Era como se fosse uma
trilha sonora feita especialmente para aquele momento. O Edu parecia estar
pensando na mesma coisa, porque fixou seus olhos no meu e senti a mão que ainda
estava na minha cintura me segurar um pouco mais forte, como se estivesse com
medo que eu fosse embora.
Levemente, senti ele me encaixar em seus braços, colando nossos
corpos e começar a dançar em um ritmo mais lento. Eu sentia a respiração dele
na minha pele e as suas mãos me guiando com firmeza, porém sem deixar a
delicadeza de lado. Me deixei levar pelo seu ritmo, esquecendo completamente
que existia um mundo ao nosso redor. Algo entre nós funcionava como um ímã,
aproximando um do outro de maneira automática.
Quando
o ritmo da música ficou mais dançante, ele pegou minhas mãos e começou a fazer passos
e giros cada vez mais rápidos. No início, consegui acompanhá-lo, mas ele mudava
a direção do movimento, me confundindo e desequilibrando. Como tinha prática,
conseguia me recuperar rápido, mas quanto mais eu me esforçava para me manter
em pé, mais ele parecia querer complicar minha vida.
Tentei
parar por um segundo para pedir que ele diminuísse o ritmo, quando ele pegou os
meus braços tentando iniciar um novo giro. Finalmente me desiquilibrei, meu
corpo indo contra o seu com tudo. Apoiei uma das mãos no seu peito e levantei a
cabeça, confusa. Foi aí que me dei conta que estava a menos de cinco
centímetros do seu rosto, nossas bocas quase coladas. Olhei para ele novamente
e, lentamente, vi ele se aproximar ainda mais. O beijo começou lento, como se o
carioca estivesse pedindo permissão. Aos poucos, aumentamos o ritmo, nossos
corpos redescobrindo o encaixe que já estavam acostumados.
Sua
mão correu pelas minhas costas e eu acariciei o seu cabelo, a música tocando ao
fundo servindo como a explicação perfeita para o que eu sentia na hora: fui a
nocaute e beijei a lona. Com um único golpe, estávamos os dois entregues, a
sintonia rolando entre nós da mesma maneira na noite que fizemos amor. Era algo
forte e intenso. Era a tempestade Eduardo voltando para a minha vida.
Quando
a canção acabou, me afastei dele lentamente, nossos olhares conectados. Parecia
que eu estava me movimentando em câmera lenta, nenhuma parte de mim respondendo
ao instinto de sair logo dali e encerrar o assunto.
-
Eu queria falar com você sobre esse assunto – mexeu nos cabelos, sem graça,
antes de me puxar para um canto mais reservado.
Institivamente
dei um passo atrás, como se precisasse me proteger. Fiquei encarando seu rosto,
tentando adivinhar as palavras que viriam a seguir enquanto o carioca parecia
estar organizando os pensamentos na sua cabeça.
-
Acho que fui muito precipitado com você – ele disse, por fim.
Esperei
que o Edu explicasse melhor o que queria dizer, mas ele apenas desviou o olhar.
Virei a cabeça para descobrir o que estava chamando a sua atenção. Do outro
lado, o Alê e a Laís dançavam e riam, se divertindo juntos. Os olhos do
skatista brilhavam enquanto ele girava a minha amiga, o sorriso dela
contagiando a todos.
-
Às vezes a gente acha que é esperto, mas acaba sendo a mais burra das criaturas
– fez uma pausa, voltando a olhar pra mim – Quando eu cheguei aqui, queria
impressionar todo mundo. Ser o cara, sabe? Meu primo sempre foi um cara
tranquilo, que sabe o que quer e o que é, aquele que nunca tem problemas...
Acho que eu quis mostrar que poderia ser igual, saca? Que era tão bom quanto. A
ideia era chegar, ficar de boa com todo mundo, fazer todo mundo pensar “nossa,
o primo do Alê é tão gente boa quanto ele”. Só que a primeira coisa que vi
quando cheguei aqui foi você. E aí tudo deu errado – ele mexeu a boca e, de
alguma forma, ouvir a última parte da frase doeu em mim. Por mais que a nossa
relação tenha sido complicada, era estranho ser considerada como um erro.
-
Calma, não é isso que eu quis dizer... – minha cara deve ter me denunciado,
porque ele se apressou em se corrigir – A ideia não era me envolver com
ninguém, entende? Muito menos com uma garota como você. Eu não consegui
resistir, a Mari também surgiu nesse rolo todo e a questão do “ser o cara legal
ou não” me pegou. Se eu ficasse com você, eu sabia que arrumaria problemas com
as suas amigas. Já não ficar me deixaria mal com você e o meu primo. Foi aí que
tentei ser espertão, ser legal com tudo mundo e me ferrei.
Eu
não sabia o que falar. Por muito tempo eu quis ouvir aquela explicação. Mas,
naquele momento, depois do Léo e de tudo o que aconteceu, percebi que o Edu não
tinha mais tanta importância. Não que eu não sentisse atração por ele ou não
estivesse abalada com a sua proximidade. Era só uma questão que, às vezes,
quando estamos no olho do furacão, temos a tendência de ver os problemas muito
maiores do que eles realmente são. Agora eu enxergava o Edu como ele realmente
era: um cara legal, bonito, sexy, mas nada mais do que isso. Ele não era mais o
“príncipe” que me fez comer a maça envenenada e encarar todos os males só para
ter o seu amor no final...
-
Tudo isso me fez aprender muito. Me ver fez colocar a cabeça no lugar e ver as
coisas como elas são – ele continuou, mexendo as mãos e falando de maneira
ansiosa – Quando você comentou que meu primo queria fazer tudo do jeito dele,
do modo tradicional, foi como se alguém tivesse acendido uma lâmpada na minha
cabeça. Percebi o que deveria ter feito desde o início com você.
-
Bom, posso dizer que também aprendi muito com esse processo. Apesar de ter sido
uma situação difícil, também serviu para me fazer enxergar uma porção de coisas
que eu não via antes – aproveitei o momento de desabafo para me abrir também.
-
Acho que, se você quiser, podemos continuar aprendendo juntos. Quero dizer...
talvez, começar de novo, sei lá... – o carioca ficou sem graça.
Antes
que eu pudesse responder, a Laís apareceu ao meu lado, uma gota de suor
descendo pela sua testa de tanto dançar.
-
Amiga, vamos ao banheiro comigo? Preciso retocar a maquiagem. Sinto que estou
toda borrada!
Olhei
para o Edu que mexeu a cabeça como quem diz “vai lá”. Sem pensar duas vezes, a
morena me puxou pelo braço, passou pela mesa para pegar a clutch que deixara abandonada ali e saiu rumo ao corredor que dava
acesso aos banheiros do camarote.
-
Quero saber tudo o que rolou com o primo bonitão! – a Laís perguntou na
primeira oportunidade – Não me esconda nada, mulher!
-
Resumindo: fiquei com ele nas férias, rolou um clima, nós transamos, a escola
inteira ficou sabendo porque uma amiga minha espalhou um boato sobre isso, aí
nunca mais nos falamos e agora estamos aqui... – expliquei, espantada com a
minha capacidade de me meter em problemas.
Ela
apenas olhou para a minha cara e soltou um assovio de espanto – Caramba! E eu achando
que era só um caso de crush mal resolvido...
-
Deixa eu te explicar uma coisa: na minha vida as coisas nunca são simples. Vai
se acostumando... – afirmei com um humor negro.
-
Mas e aí? Como foi ficar com ele de novo? Porque eu vou te falar... para quem
olhava de longe parecia que vocês foram feitos um para o outro. Estava o maior
clima – minha amiga comentou enquanto entrávamos no banheiro.
-
É... rola um lance legal entre a gente – concordei meio a contragosto.
-
E é por isso que você está com essa cara de quem não sabe o que fazer? –
sugeriu me olhando pelo canto do olho.
-
Bem isso... – concordei com a voz fraca.
-
E ele disse alguma coisa sobre vocês? Sei lá, alguma justificativa do porquê
vocês acabaram se afastando – a Laís quis saber enquanto pescava seus itens de
maquiagem de dentro da bolsa.
-
Estávamos falando exatamente sobre isso quando você chegou. Ele disse que foi
muito precipitado, que queria ser como o Alê, uma pessoa mais de boa e tals e
acabou metendo os pés pelas mãos – disse, também analisando minha aparência. O
lugar estava cheio, mas nós duas ignorávamos as outras meninas e dominávamos
boa parte do espelho. Uma característica marcante da minha amiga era essa: ela
sabia se impor sem precisar “pisar” nas pessoas. Nesse caso, só a sua presença
já contava.
-
Olha, se aceita uma sugestão, eu deixaria rolar só pra ver onde dar. Tá na cara
que tem um lance entre vocês. Porém – ela fez uma pausa, fechando o batom de
maneira enfática – saiba jogar. Nada de precipitação. Faça ele seguir as suas
regras agora.
-
Taí, vou pensar na sua sugestão – balancei a cabeça, considerando a ideia.
-
Miga, um boy desses não se joga fora! É só saber levar que não tem erro –
disse, piscando para mim.
-
Ah, mas chega de falar de mim! Quero saber de você, mocinha! Como está indo com
o Alê?
-
Devagar e sempre, né Gabs? Mas nossa, ele é um amor. Acho que nunca conheci um
menino tão fofo! – o brilho nos olhos dela não dava nenhuma margem para
dúvidas.
-
O Alê é um amor mesmo. Estou torcendo para ele dar certo com você – disse, tão
empolgada quanto ela com a novidade.
-
Mas... não sei. Ainda é estranho... – ela mexeu no cabelo, sem jeito – Ele
ainda não tentou nada comigo, sabe? E se eu estiver confundindo as coisas?
-
Lá, confia nele. Tenho certeza que o Alê não vai te decepcionar – tentei
acalmá-la.
-
Sei lá, Gabi... Eu tenho esse jeito de garota descolada, mas no fundo tenho
medo de me machucar. Já passei por muitas decepções. Não sei se aguento mais
uma – por um momento, enxerguei um pouco de mim na Laís. Alguém que estava
tentando ser forte apesar de tudo. Aquela declaração me fez pensar que é
realmente difícil entender alguém sem enxergar além das “armaduras” que cada
pessoa carrega. Como diz um trecho do livro Cidades de Papel, é só por meio das
rachaduras que conseguimos mostrar a luz que há no nosso interior.
-
Só posso te dizer uma coisa: você não pode ter medo de se quebrar – coloquei a
mão no seu ombro, apertando de leve – Isso vai acontecer de qualquer jeito, mais
cedo ou mais tarde. É inevitável. Então, só vai... permita que a vida aconteça.
Faça o que seu coração está pedindo.
Eu
não sabia se o conselho era para ela ou para mim. Assim que terminei a frase,
percebi que poderia aplicá-la perfeitamente a minha situação. Tudo bem que eu
não estava lidando com um cara maravilhoso como o Alê, mas, e se tudo o que
aconteceu antes fosse uma oportunidade de “ver a luz” que havia no Edu e,
automaticamente, também mostrar a que existia no meu interior?
-
Caramba! Tá filósofa hoje, hein? Mas você tem razão. Vou pensar com carinho em
tudo isso! – ela sorriu para mim de modo carinhoso e me puxou para sair do
banheiro.
Lá
fora o show estava animado, a arena inteira cantando junto com a dupla no
palco. Lamentei não conhecer muitas músicas do Jorge e Mateus. O repertório
parecia ser bem caprichado. Pelo corredor que dava acesso aos banheiros era
possível ver as arquibancadas lotadas, o público balançando as mãos e se
divertindo.
-
Olha quem eu encontro por aqui - alguém parou na nossa frente, impedindo a
nossa passagem.
Assustada,
encarei a pessoa e quase cai para trás quando me dei conta de quem era. Seus
olhos azuis brilhavam mais que dois faróis. Os cabelos bagunçados realçavam
ainda mais o seu charme natural. Ali, bem diante de mim, estava o oposto do
Edu. Enquanto o carioca era tempestade, o Léo era um céu azul de verão. Calmo e
pacífico. E mesmo com toda a mágoa que estava sentindo dele, precisei me
segurar. Porque, bastava ele dizer que sentia a minha falta para todas as
minhas defesas caírem por terra.
-Léo!
- a Laís o cumprimentou, o olhar indo dele para mim como se não soubesse o que
fazer.
-
Gabi - o Cabeludinho me deu um beijo no rosto de maneira delicada. Mantive a
minha expressão fria, como se ele não tivesse a mínima importância para mim.
-
Ai gente, eu adoro essa música! Preciso ir porque prometi que ia dançá-la com o
Alê. Te vejo no camarote, Gá - a morena saiu apressada, sem fazer a mínima
questão de disfarçar que queria nos deixar a sós.
-
E aí, como você está? - ele puxou assunto.
-
Eu não quero falar com você, Léo - soltei, a raiva tomando conta de mim pouco a
pouco.
Ele
arregalou os olhos, sem saber o que falar.
-
Não falo com gente que não cumpre com a sua palavra - cruzei os braços, como se
quisesse me segurar. Ao nosso redor, as pessoas passavam felizes, sem nem
perceber o que estava acontecendo entre nós.
-
Como assim? - ele parecia realmente surpreso com a minha reação.
-
Nós tínhamos um trato. Eu confiei que você cumpriria com as nossas regras. E aí
você aparece com a Vanessa na festa, mesmo sabendo que eu estaria lá - levantei
o dedo e passei a acusá-lo, minha voz ficando cada vez mais alta.
Ele
não falou nada, o que me deixou ainda mais nervosa. Eu queria que ele se
ajoelhasse e me pedisse desculpas ou, pelo menos, que dissesse que se sentia
muito. Mas ele só ficou parado, sem reação, me encarando como se nada estivesse
acontecendo.
-
Quer saber o que você é? Um mentiroso! Um cara ridículo, um completo idiota –
explodi, as lágrimas queimando meus olhos como fogo. Naquele momento eu seria
capaz de comprar briga com o Anderson Silva e ainda sair vitoriosa, tamanha era
a minha fúria.
-
Para, Gabi! Eu nunca menti para você! – ele se defendeu, como se finalmente a
ficha tivesse caído.
-
Ah, não? Então fez o quê? Me usou enquanto estava entediado com a sua namorada,
e agora que cansou de mim resolveu voltar atrás? Não sei o que é pior! – a
ironia fluía das minhas palavras com uma naturalidade incrível.
-
Não é isso... eu nunca menti! Mas é que a gente conversou... e não posso negar
que ainda gosto um pouco dela...
Suas
palavras me atingiram feito ferro em brasa – Gosta dela? Quer saber a verdade?
Você não gosta nem de você mesmo. E eu estou mais é torcendo para que tudo dê
errado entre vocês. Quero mais é que vocês se ferrem juntos.
-
Gabi... – ele tentou argumentar.
-
Gabi, nada! Se você tiver o mínimo de dignidade, você vai fazer o favor de
nunca mais falar comigo e nem olhar para a minha cara, está entendendo? Eu
quero esquecer que um dia fiquei com você, Leonardo – gritei, antes de sair em
disparada na direção do meu camarote.
Pelo
caminho, fui batendo em várias pessoas, enquanto me controlava para não chorar.
“Seja
forte, seja forte, seja forte”, eu repetia baixinho para mim mesma. A vantagem
de já ter se quebrado tantas vezes, é que, com o tempo, você aprende a se
“juntar” mais fácil. Era como fazer um passo novo no balé: das primeiras vezes
era complicado, mas com a prática o movimento se tornava automático.
Parei
perto da entrada, respirando fundo várias vezes para me acalmar. Eu não contava
encontrar o Léo ali, mas estava até feliz com o nosso encontro. Só assim eu
poderia despejar toda a raiva que estava sentindo dele.
A
partir dali, a única maneira era seguir em frente, esquecendo que um dia o
Cabeludinho fez parte da minha história. Aquela história tinha ficado para trás
junto com a velha Gabi.
Dali
em diante, quem ditaria as regras seria eu.
_______________________________________
Notas
finais: E aí, gente? Fest Show foi ou não foi inflamável?! Hahaha
O
que foi esse beijo de Gabs e Edu? E esse reencontro com o Léo? Os forninhos
rolaram nesse cap. Sem falar no Alê e na Laís sendo maravilhosos, né? Já shippo
eternamente <3
Mas
o que eu quero mesmo é ver a Gabi dando a volta por cima e deixando esse povo
todo ba-bando! Ai gente, perdoem a demora em postar. Estou me empenhando mais
com a história agora e escrevendo todo dia, pelo menos um pouquinho na hora do
almoço. Acho que assim conseguiremos fazer os caps saírem mais rápido.
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Oiieeee.... xD
Espero que esteja curtindo a fic!
Se estiver, não deixe de "perder uns minutinhos" para me contar a sua opinião, registrar o seu surto ou apenas para dar um oi! E se não estiver curtindo, aproveite o espaço para "soltar o verbo" e falar o que te desagradou!
Uma história não existe sem leitores! São vocês que me dão forças para continuar escrevendo e caprichando cada vez mais em cada capítulo! Portanto, deixe de "corpo mole" e venha "prosear" sobre as fics comigo e com as outras meninas que passam por aqui! *-*
Cada comentário ilumina muito o meu dia! Não deixe de fazer uma quase-escritora feliz: Comente! *-*
E não esqueça de deixar o seu nome, ok?!