quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Capítulo 2 – Tropeçando em novidades

Quando desci, a festa já estava rolando. Música alta e cerveja animavam o local. Às vezes, em ocasiões especiais, convidávamos bastante gente para as nossas comemorações. Mas aquela noite seria só a velha e boa Turma do Gueto. Ou seja, eu, Carol, Marília, Alê e seu primo, Caio, e mais a Natália, Mel e Deby.

Essas três últimas estudavam na nossa sala, mas eu não costumava falar muito com elas. Só algumas conversas sobre séries, filmes ou maquiagem. Nada pessoal. Elas eram mais chegadas da Marília e por isso sempre eram presença confirmada no Gueto.

O Caio era o “rolo” da Carol há mais ou menos uns seis meses, quando os dois se conheceram em um show de um desses cantores sertanejos da moda. Desde então, eles ficavam nesse “chove e não molha”. Claro que o fato de ser moreno, alto, forte, estiloso, dono de um sorriso arrebatador e muito bonito contavam bastante a favor dele, mas às vezes ele era um pouco infantil. Estava sempre querendo se exibir, o tipo de pessoa que faz tudo para chamar atenção. Completamente o oposto da Cá, que era mais tranquila e na dela. Porém, como todo bom cafajeste, ele sabia levar a minha amiga no papo muito bem... O resultado era aquele rolo que vivia atando e desatando.

Já o Alê era o skatista da turma e fazia a linha descolado e aventureiro. Estudávamos juntos desde a quinta série e erámos praticamente vizinhos. Por isso, eu e ele mantínhamos uma amizade muito especial.

Quase todo mundo já estava por lá. Só faltava o Alê e o tal primo e a expectativa pela chegada do novo morador da cidade não poderia ser maior. Em busca de informações, as meninas chegaram até a fuçar o Instagram e o Facebook do skatista. Aparentemente, ninguém teve sorte, porque continuavam especulando.

Decidi não fazer parte da conversa. Aqueles eram os meus últimos dias das férias escolares antes de voltar à rotina enlouquecedora de escola + ensaios + decisões para a época mais importante da minha vida (que envolvia escolher entre faculdade, intercâmbio ou academia de dança. E, caso eu escolhesse a primeira opção, então eu ainda precisaria escolher qual curso fazer). Era muita pressão! Por isso, eu aproveitava cada minuto de folga como se fosse o último.

- Gaaabi, pega lá os copinhos de dose! Vamos começar a rodada de porradinha! – Carol gritou para mim sentada em um dos velhos sofás, rodeada pelo restante das garotas. Caio estava em um canto, esperando o Alê para dar início às partidas de truco.

-Beleza! Tô indo lá! – Gritei de volta por cima do som, já me virando para ir em direção a casa. No caminho não pude deixar de imaginar que a noite ia render. Sempre que rolava porradinha, (uma mistura de vodka com soda servida em um copo pequeno de dose. Antes de beber, a pessoa precisa bater a base do copo no joelho, o que fazia o gás do refrigerante subir e tornava a bebida mais...interessante), alguém ficava bêbado e acabava pagando mico. Como estávamos entre amigos, ninguém tinha a preocupação se estava ou não passando da conta. Confiávamos uns nos outros ali. Mas, era claro, que isso não impedia que a pessoa fosse muito zuada no dia seguinte por causa da bebedeira, afinal, "the zoera never ends".

Subi as escadas do sobrado correndo - tarefa difícil considerando que estava usando uma sandália com o salto altíssimo - abri o armário da Carol, encontrei o esconderijo secreto das bebidas e dos copos de doses e voltei, ainda em disparada.

Passei pela sala, cruzei a cozinha e ia saindo pela porta dos fundos, em direção ao Gueto quando trombei em alguém. Consegui manter os quatro copos seguros em minhas mãos, mas acabei me desequilibrando e quase fui parar no chão, não fosse “o alguém” me segurar.

- Opaaa Gabi, mas a festa nem começou e você já está bêbada? – ouvi a inconfundível voz do Alê me zuar enquanto ria de mim.

Senti “O Alguém” me endireitar e me segurar levemente pelos ombros como se quisesse testar se eu realmente tinha condições de parar em pé sozinha. Demorou uns cinco segundos para me recuperar do choque e conseguir me firmar sobre os meus joelhos, mas enfim consegui me virar para conhecer o meu salvador.

Loiro, alto, olhos de um tom verde acinzentado, pele queimada de sol, cabelo liso meio comprido na frente caindo nos olhos.

“CA-RAM-BA!”. Foi tudo o que se passou pela minha cabeça nessa hora. Não dava para acreditar que eu tinha praticamente atropelado um cara gato daquele. Seria um desperdício sem tamanho...

- Gabi, esse é o meu primo, Edu. Edu, essa é a bonequinha de porcelana e bailarina da turma, Gabriela – Alê tratou de fazer as apresentações. Agradeci mentalmente a iniciativa dele, porque eu ainda estava sob o efeito daqueles olhos verdes tão misteriosos.

Edu deu um sorriso de canto de boca para mim e estendeu a mão para me cumprimentar – Então é assim que vocês recebem as pessoas por aqui? Com trombadas? – ele disse em tom irônico.

- Não! Na verdade costumamos tacar ovos e jogar farinha, mas como só ficamos sabendo da sua vinda em cima da hora, tivemos que improvisar qualquer coisa – dei de ombros, esticando o braço para aceitar o seu cumprimento.

- Então devo concluir que tive sorte por ser atropelado por você? – o rapaz perguntou. Eu já estava me preparando para soltar a minha mão quando ele me puxou para perto, colocou a mão na minha cintura e deu dois beijos no meu rosto – Prazer, Gabriela!

“O prazer é todo meu, querido!” A pirigueti dentro de mim gritava, eufórica. Mesmo assim, consegui segurar a onda. - Igualmente – disse devolvendo os beijos, meio atrapalhada e me soltando da sua pegada logo em seguida.

- No Rio as pessoas se cumprimentam com dois beijos – ele explicou ao perceber minha expressão de confusa.

- Vai ter porradinha? – O Alê voltou a entrar na conversa, novamente com o time perfeito para me ajudar nos momentos em que estava sem fala.

- Vai, vai sim! A Carol me pediu para pegar os copos – respondi, tentando manter uma postura normal e indiferente. Eu não costumava ficar tão agitada perto de meninos. Sempre fui conhecida por ser a desencanada e tranquila da turma. Mas perto do Edu...

- Eba! Sou o primeiro da fila! – Alê já se empolgou com a novidade.

- Negativo. O Caio está te esperando para jogar truco – avisei.

- Truco? Sou seu parceiro, primo! – Edu se ofereceu.

- Quem disse? – perguntei em tom de desafio. Eu não era do tipo que gostava de intimidar as pessoas, mas, definitivamente, não estava no meu estado normal naquele momento. Talvez tenha sido a trombada que afetou o meu juízo.

- Eu estou dizendo! – ele respondeu me olhando fixamente nos olhos.

- Foi mal, cara. Mas a Gabi é minha parceira oficial de truco – o primo colocou fim ao impasse.

- Uma menina que joga truco? – o loiro ficou espantando.

- Você não sabe as coisas que a Gabi é capaz de fazer! Aliás, não só ela. Marília e Carol também são terríveis!

Ok, o Alê estava merecendo um prêmio. Além de trazer o primo gato para a festa, ele ainda me ajudou em todos os momentos que – poderia apostar - fiquei com cara de boba olhando para o Edu. Não bastasse isso, ainda disse que eu era uma garota surpreendente. Sim, eu tinha o melhor amigo desse mundo e o nome dele era Alexandre.

Edu apenas deu de ombros, como se estivesse sem palavras, o que me fez abrir um sorriso triunfante. Fiquei me achando a tal.

 - Bora entrar então, parceiro? Temos uma invencibilidade para manter – me gabei mais ainda, chamando os meninos. Porém, quando me virei e tentei andar o meu pé falhou. Fiquei tão ocupada com o Edu e a conversa que não me dei conta que ele estava latejando de dor.

- Aaaaaai! – gritei, estendendo o braço para que o Alê pudesse pegar os copos das minhas mãos.

- Que foi, Gabs? – ele pegou os objetos me olhando preocupado.

- Não sei, acho que zuei o meu tornozelo. Não estou conseguindo colocá-lo no chão – me encolhi toda, fazendo drama.

- Será que torceu? – Edu se adiantou me oferecendo apoio.

- Nem brinca! Tenho uma apresentação muito importante no fim do mês. Se eu não dançar minha mãe me mata! – dobrei a perna e tentei massagear o tornozelo comprometido, ficando em uma posição torta e nada elegante perto do rapaz novo. E lá se vai a ideia de causar uma boa impressão...

- Caramba, eu lembro que você falou! Vai ser no Teatro Municipal, né? – Alê também se aproximou entendendo a gravidade da situação – Caramba, Eduardo! Você nem chegou e já quebrou a nossa bonequinha!

- Nossa, desculpa!  - a voz do novato soou realmente preocupada.

- Não foi nada! Acho que um pouco de gelo e um comprimido para a dor já resolvem a parada – falei, me endireitando para parecer que já nem estava doendo tanto. Eu não queria estragar a noite da galera só por causa de uma trombada à toa.

Tentei andar normalmente, mas não tive sucesso. O tornozelo se recusava a colaborar.

- Vem, eu te ajudo – Edu se ofereceu, colocando uma de suas mãos ao redor da minha cintura.

Retomamos a caminhada, passando pela área de serviço da casa e subindo uma pequena rampa até chegar ao Gueto. Alê foi na frente, tagarelando sobre a minha habitual falta de sorte e o quanto a minha mãe ficaria louca se eu não participasse daquela apresentação.

Ao meu lado, o Edu caminhava lentamente, esforçando-se para manter o meu ritmo. – Acho que hoje eu vou ter que cuidar de você – ele me disse baixinho, seguido por um sorriso que não dizia se aquilo era verdade ou apenas brincadeira.
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4 comentários:

  1. Dona Manuela, pode voltar a postar JÁ!
    To adorandooooo... Esse Edu hein!! Prevejo beijos hhhhaahaa

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    1. Oi, oi, oiiii!

      Eu estou escrevendo! Juro que estou. O terceiro cap de VOV já tem umas seis páginas. É que está corrido aqui, aí não consigo arrumar muito tempo para escrever... Mas pode ficar tranquila que não abandonei a história!

      E você está prevendo certo! Edu vai causar, já deu pra sentir, né?

      Beijão e obrigada por comentar! =)

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  2. Gente pelo visto essa festa ainda vai render! KKKKKK
    E quero dizer que primeiro me identifiquei com a Carol, mas depois com o Alê... estou confusa rs
    Mas né, tá dahora!! Depois leio mais ;)

    beijos

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    1. Olha só como você é esperta! Sim, era para a Carol ser inspirada em você, mas mudei de ideia no meio do caminho, e agora você é um boy. Como é ser um skatista descolado? Conte-me sobre isso! hahahahaha

      Sim, festa vai bombar porque eu A-DO-RO um fervo. Sou dessas...

      Beijoca

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Oiieeee.... xD

Espero que esteja curtindo a fic!
Se estiver, não deixe de "perder uns minutinhos" para me contar a sua opinião, registrar o seu surto ou apenas para dar um oi! E se não estiver curtindo, aproveite o espaço para "soltar o verbo" e falar o que te desagradou!

Uma história não existe sem leitores! São vocês que me dão forças para continuar escrevendo e caprichando cada vez mais em cada capítulo! Portanto, deixe de "corpo mole" e venha "prosear" sobre as fics comigo e com as outras meninas que passam por aqui! *-*

Cada comentário ilumina muito o meu dia! Não deixe de fazer uma quase-escritora feliz: Comente! *-*

E não esqueça de deixar o seu nome, ok?!