quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Capítulo 27 – Continue a nadar

Notas iniciais: Obaaaa! Nesse cap surgem dois personagens novos que estava louca para colocar na história. Tenho CER-TE-ZA que vocês vão amar conhecê-los.

Do mais, o cap está morno, mas é porque serve de introdução para os próximos. Já sabem, né? Vem coisa boa por aí.

Estão prontas?
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- Mas já? – resmunguei, estendendo o braço para desligar o despertador. Não existia nada pior que acordar cedo em plena segunda de manhã.

Muito devagar, me arrastei para fora da cama e fui tomar um banho para despertar. Quando terminei de me arrumar, dona Beatriz já estava batendo na porta do meu quarto, me acelerando. Ela ainda fazia questão de me levar até a porta do colégio para ter certeza que não estava cabulando aula. Enquanto acelerava meus passos para ficar pronta logo, fiz uma anotação mental que precisava conversar com meu pai sobre isso. Eu já estava no terceiro ano do colegial, não dava para ficar tendo babá, poxa...

Dei um jeito no cabelo, fiz a maquiagem que a Laís me ensinou em tempo recorde, passei perfume e dei uma passada rápida pelo quarto pegando tudo o que precisaria para a aula do dia e jogando na mochila. Quando fiquei pronta, minha mãe já estava com o motor do carro ligado, me esperando com cara de poucos amigos.

  Seguimos em silêncio pelo caminho. Enquanto percorríamos as ruas, dei uma checada no Snap. Tinha um vídeo do Léo, gravado na noite anterior, deitado no sofá e comendo pipoca. A imagem indicava que ele não estava sozinho e imediatamente senti o ciúme tomar conta de mim. Abri nossa conversa no Whats, nem uma palavra trocada desde o domingo de manhã. Fiquei imaginando se ele tinha pensando sobre o que conversamos e se tinha tomado alguma decisão. Será que iria mesmo terminar com a Vanessa? E se fosse, por que estava assistindo filme com ela? Por que não podíamos ficar juntos se a gente se dava tão bem?

  Ainda era de manhã e parecia que eu já tinha resolvido mais de mil problemas de matemática. Minha cabeça fervia com as possibilidades. Encontrei o Alê no nosso canto de sempre do pátio com um mal humor capaz de assustar até a mais serena das criaturas.

- Você por acaso está naqueles dias? – ele perguntou depois de tentar estabelecer uma conversa normal comigo, sem muito sucesso.

- Me deixa em paz, vai – retruquei de modo azedo.

- Vou entender isso como um sim – disse, pegando o celular se concentrando no seu Instagram.

Subimos para a sala lado a lado, mas em silêncio. Fiz outra nota mental de lembrar de agradecer o Alê pela colaboração quando estivesse mais calma. A Mari e a Carol não costumavam ter tanta paciência com crises de mau humor – e era por isso que eu tentava evitá-las quando estava na companhia delas.

A primeira aula do dia era de Artes, o que me animou um pouco. O professor Gabriel sempre falava de assuntos interessantes e tinha uma maneira de ver a vida muito singular. Ele parecia estar sempre disposto a entender todos os lados e viver em paz, o que transmitia a sensação de ser uma pessoa calma e centrada.

- Pessoal, hoje tenho uma tarefa bem diferente para vocês, que vai exigir muita criatividade e trabalho em equipe – ele anunciou depois de fazer a chamada e passar alguns recados.

- Fala aí, professor... – alguém pediu.

- Quero que vocês escolham uma canção e contem a história da letra e da melodia a partir do ponto de vista de vocês.

Os alunos se entreolharam, todo mundo com a expressão de que não tinha entendido direito.

- Calma, calma... eu explico – o professor riu adivinhando o pensamento de todos – Sabem quando vocês ouvem uma música e imaginam uma cena ou situação? Então, é isso que eu quero que vocês me contem. Pode ser em desenho, vídeo, poesia... tanto faz. O objetivo é exercitar o nosso olhar para enxergar além do superficial. Ok, a música tem uma letra e um clipe que já passam uma mensagem. Mas, o que existe por trás disso? Qual situação serviu de base para que o compositor escrevesse aqueles versos? Como os personagens da história se sentiam, ou o que eles fizeram depois disso?

- Então é para a gente imaginar uma história para qualquer música que a gente quiser? – Alê quis saber, com um sorriso travesso no rosto.

- Isso mesmo, senhor Alexandre. Mas nem adianta se empolgar muito, porque vou aprovar as músicas e as ideias antes de vocês começarem o trabalho – Gabriel disse.

- Isso que dizer que não vale música do “É o Tchan!”? – o skatista perguntou com o seu melhor sorriso amarelo.

- Bom, desde que você tenha uma justificativa muito boa para explicar o porquê dessa música – o professor lançou um olhar de “posso ser tão esperto quanto você”, rindo na sequência.

Meu amigo apenas deu de ombros, sem argumentos para continuar a conversa.

- Enfim, turma – o professor continuou a falar – o trabalho deve ser feito em grupo de até quatro pessoas. Todos deverão apresentar os resultados diante da sala daqui um mês. Vou avaliar as ideias mais criativas e as melhores execuções, ok? Podem aproveitar a aula de hoje para definir as equipes e começar a discutir ideias. Qualquer dúvida, me chamem.

Menos de cinco segundos depois a sala já estava tomada por barulho de conversas e pessoas arrastando mesas e cadeiras de um lado para o outro. Enquanto o pessoal se organizava, fiquei encarando aquele que foi o meu “time” por muito tempo. Vi a Nathy assumir o meu lugar e a Mari tratá-la como se sempre tivesse ocupado aquela vaga. Senti algo estranho dentro de mim. Não era ciúme, nem raiva, nem mágoa. Era um vazio estranho, como se quisesse ter a minha própria turma, alguém para correr quando precisasse.

- Acho que seremos só nós – Alê disse com seu típico tom brincalhão.

- É, acho que sim... – soltei um suspiro, voltando minha atenção para minha atual realidade.

- Qual é, Gabs?! Nem sou tão chato assim – ele se defendeu.

- Não é isso, Alê. É só que... sei lá. O dia está estranho hoje – tentei justificar minha falta de ânimo.

- Vocês já tem grupo? – uma voz soou de repente ao nosso lado.

Olhei em direção à pessoa que fez a pergunta. Era o Fernando, um menino alto, magro, dono de um sorriso muito bonito e que todo mundo dizia ser gay, embora ele nunca tivesse assumido nada.

- Ainda não – respondi, tentando disfarçar a minha surpresa.

- Bom, eu e a Rebeca também não temos. Acho que poderíamos nos juntar – ele propôs com uma voz amigável.

Puxei pela memória quem era a tal Rebeca. A primeira lembrança que surgiu foi a Mari fazendo piada por ela ser a “forever alone” da nossa sala. Dona de cabelos cacheados castanhos e de uma inteligência fora do comum, a menina em questão era de poucos amigos e poucas palavras. Sempre tirava 10 em todas as provas, mas nunca se misturava a ninguém.

Olhei para o Alê, que me encarava com a expressão surpresa. Pela sua cara, dava para imaginar que ele acreditava ser mais possível que o céu se abrisse e E.T’s aparecessem para nos ajudar do que aqueles dois se juntarem a nós para um trabalho em grupo.

- Hããã... por mim tudo bem – respondi, voltando a focar minha atenção no garoto.

O Fernando sorriu para mim e depois virou para encarar o skatista.

 – O que minha parceira decidir está decidido – meu amigo apressou-se em responder.

- Certo. Vou chamar a Rebeca – ele avisou antes de voltar ao seu lugar, a uma fileira de distância da nossa, e chamar a nossa mais nova parceira de trabalho.

Troquei mais um olhar com o Alê, que me encarava com uma expressão de menino assutado.

- Que foi? – perguntei em voz baixa.

- Ela tem cara de que não vai nem me deixar abrir a boca.

- Para de drama, vai... Tenho certeza que ela é gente boa – menti. Na verdade, eu compartilhava da mesma opinião que ele, mas não quis dar corda para o seu medo.

- Já vou avisando que não vou fazer trabalho nenhum com música do É o Tchan! – a Rebeca anunciou, sentando-se na mesa com uma postura ereta e expressão de “sou a líder”.

Pelo canto do olho, o Alê me olhou com cara de “eu não disse?”. Devolvi o olhar querendo dizer “se controla” e tentei sorrir para mostrar que estávamos abertos a negociações.

- Na verdade, acho que já tenho a música perfeita – Fernando tomou a frente da conversa de modo conciliador.

Todo o grupo voltou a atenção para ele, como se estivéssemos esperando o salvador entrar pela porta com cornetas e querubins anunciando sua chegada.

- Bom, acredito que todo mundo aqui conheça a Taylor Swift, né? – o garoto retomou – Tem uma música dela, a Shake it Off, que é a cara da Gabriela.

- Como assim? - enruguei a testa, curiosa.

- É que a letra fala sobre vários problemas que uma garota enfrentou, inclusive com garotos, e que isso não a impediu de seguir em frente, entende? Acho que tem tudo a ver com o que aconteceu com você – o Fernando me encarou com um sorriso empolgado no rosto.

- É tipo como se estivéssemos escolhendo uma trilha sonora para a vida da Gabs? – Alê entrou na conversa com um sorriso de menino arteiro.

- Nossa, seria ideal mesmo. No clipe a Taylor aparece dançando vários ritmos, inclusive balé. Podemos fazer tipo um clipe, só que com a história da Gabriela. Um dos meninos pode se vestir de Edu – Rebeca se manifestou depois de passar alguns instantes analisando a proposta.

- Sei que ele é meu primo, mas passo essa, hein? Edu não tem o mesmo charme que eu tenho – claro que o skatista não perdeu a chance de fazer piada.

- Mas ele é bem mais bonito que você – Rebeca retrucou na mesma hora.

- Hey, já ouviu falar de empatia? De se colocar no lugar do seu parceiro de equipe? – meu amigo fez cara de ofendido só para provocá-la, o que aparentemente funcionou.

- Gente, vamos manter o foco – Fernando estalou os dedos para chamar a atenção dos dois – Gosto da ideia do clipe. E podemos aproveitar que temos o mais novo vloger do colégio no nosso grupo para organizá-lo.

- Podemos montar um roteiro. Só precisamos rabiscar algumas ideias para começar a montar a sequência das cenas – o skatista já foi abrindo o seu caderno e procurando o lápis no estojo.

- Acho que tinha que começar com ela vestida de bailarina, arrasando na coreografia. Aí aparece alguém e dá uma rasteira nela... – Rebeca sugeriu.

- Vingativa você, né? – o skatista brincou.

- Ué, só estou sendo fiel aos acontecimentos... – a garota se justificou.

- Peraí, peraí... – freei a criação da minha “vídeo biografia” – Não sei se essa é uma boa ideia. Vamos expor minha vida assim, para todo mundo?

- Querida, acho que a Mari já fez isso por você. Como você acha que eu, o Fernando e todo mundo dessa sala sabemos o que aconteceu entre você e o Edu? – Rebeca questionou, parecendo um professor quando deseja saber a lógica que o aluno usou para chegar àquela resposta.

- Pensa só, Gabi. Seria o contra-ataque ideal do Time B. E você não estaria fazendo nada de diferente do que já fazemos no Jogo do Engana Trouxa. Só que dessa vez vai valer nota – Alê tentou me convencer.

- Oi? Jogo do Engana Trouxa? – foi a vez do Fernando enrugar a testa.

Alê explicou resumidamente o nosso plano de revide contra a nobreza, recebendo muitas palavras de apoio por parte dos dois.

- Nossa, esse seria o troco ideal! A Gabi ia sair divando dessa história – Rebeca deixou o lado “líder” de lado, deixando a empolgação tomar conta.

- Gente, vai ser o bafo do ano! Gabi, você tem que fazer! Vai ser “A” volta por cima, com tudo o que tem direito – Fernando mexeu as mãos, bastante animado, o que me fez entender porque as pessoas diziam que ele era gay.

- Minha bonequinha está evoluindo, gente! De porcelana indefesa à bailarina exterminadora do recalque. Que orgulho! – Alê disse fingindo estar emocionado, fazendo todo mundo cair na risada.

- Prometo que vou pensar, ok? – concordei só para apaziguar os ânimos. Na realidade, aquela hipótese nem se passava pela minha cabeça. Uma coisa era fingir que não ligava e entrar na brincadeira do Jogo do Engana Trouxa, outra beeem diferente era montar um clipe cujo o único objetivo era mostrar para todo mundo a maior desgraça da minha vida.

- Certo. Mas enquanto você pensa, a gente já vai anotando algumas ideias, beleza? – Fernando declarou ganhando a aprovação de todos.

Passei o resto daquela aula e todas as outras com um humor não muito bom. O Alê, por sua vez, estava empenhadíssimo no tal clipe. Ele, Fernando e Rebeca pareciam velhos amigos de infância, de tanto que trocavam ideias.

Quando o sinal da saída tocou, usei o encontro do meu pai como desculpa para sair correndo sem nem me despedir direito. Encontrei Mário Sérgio parado em frente ao colégio perto de um táxi. Ele acenou quando me viu, abrindo um sorriso de orelha a orelha.

- Filha, tudo bem? Como foi a aula? – perguntou depois de me cumprimentar com um beijo no rosto.

- Foi legal – respondi, sem ânimo.

- Nossa! Com essa empolgação tão contagiante, eu não duvido que tenha sido ótima – ele brincou, mexendo as mãos para que eu entrasse no carro – O que foi? Mari e a... Como é mesmo que o Alê chama? A nobreza? – assenti com a cabeça e ele continuou – aprontaram mais alguma coisa?

- Não. Quer dizer... mais ou menos – soltei o ar pesadamente – É que essa história ainda está rendendo.

- Rendendo como? – ele me olhou com a expressão desconfiada.

Expliquei a ideia do clipe para ele.

- Poxa, você tem amigos muito criativos, hein? – ele começou a rir, se divertindo com a minha cara – Que foi? Você não gostou da ideia? – ele tentou disfarçar o riso quando viu a minha cara de poucos amigos – Filha, é só usar a lógica. Todo mundo já não sabe da história? Que diferença vai fazer ela ser contada mais uma vez ou não? E outra: não seria ótimo mostrar o seu ponto de vista? Porque até agora eles só sabem o que a Mari contou. É assim que você quer que eles te conheçam? Sobre a ótica de outra pessoa?

Balancei a cabeça, refletindo sobre o seu ponto de vista. Eu sabia que fazia sentido. Mas e a coragem para passar por tudo aquilo de novo, de onde eu ia tirar?

- Gabriela, lembra do nosso último almoço quando falei que você precisa saber o que quer da vida? Pois bem, está na hora de começar a decidir. É como eu disse, fugir não é a solução.

- Mas eu não estou fugindo, poxa! Voltei para o colégio, não voltei? Não aguentei todo mundo me zuando, julgando e olhando de cara feia? – desabafei, com o tom de voz bem mais alto que o normal. Vi o taxista espiando pelo retrovisor para saber se estava tudo bem. Por sorte, já estávamos próximos do ponto onde iríamos saltar. Abaixei a cabeça e fingi estar entretida com o celular enquanto o motorista estacionava e meu pai acertava a corrida.

Mário Sérgio tinha escolhido o mesmo restaurante da última vez, o que me fez concluir que o cardápio seria peixe novamente. Isso acabaria se tornando uma característica única do meu pai: a pessoa que me levava para comer pratos diferentes.

Escolhemos uma mesa e fizemos os pedidos. Depois que o garçom saiu, ele me encarou com a expressão insondável.

- Está mais calma agora? – perguntou, não em tom acusatório como minha mãe teria feito. Porém, o tom de análise que ele usava comigo às vezes estava começando a me irritar.

- É que está tudo uma bagunça na minha cabeça e eu não faço ideia de como começar a arrumar – desabafei, sem coragem de sustentar o seu olhar.

- Pelo visto, não é só o clipe que está te preocupando...

- Eu vi o Edu ontem – falei como se fosse uma criança confessando que fez arte.

- E como foi? – a expressão indecifrável e tom de análise continuavam. Queria pedir para ele parar com aquilo, mas no momento tinha problemas mais sérios para resolver e precisava aproveitar que meu pai estava disposto a me ajudar. Encontrar pessoas em quem eu pudesse confiar andava meio complicado nos últimos tempos.

- Estranho. Acho que criei na minha cabeça uma versão dele arrogante e marrenta. Tinha esquecido que ele também poderia ser gente boa e simpático – mexi no cabelo só para não ficar com as mãos paradas.

O garçom se aproximou com as bebidas e aproveitei para dar um longo gole no meu suco. Não tinha percebido que minha boca estava seca.

- Além do Edu, tem mais alguma coisa?  - perguntou, mexendo o conteúdo do seu copo com o canudinho.

- Tem o Léo – imitei o seu gesto, olhando para o líquido como se, de repente, ele tivesse se tornado muito importante.

- Opa, esse é novo! Quem é Léo?

Eu poderia apostar que o Mário Sérgio nem desconfiava que a minha “fila” poderia andar tão rápido, porque ele juntou as sobrancelhas, surpreso com a minha resposta. Respirei fundo, pensando se não estava indo longe demais naquela conversa. Afinal, ele era meu pai e, até onde eu sabia, garotos não era o tipo de assunto que meninas da minha idade discutiam com o pai.

Dei mais um longo gole no meu suco antes de contar sobre o cabeludinho. Ao longo da conversa, percebi que ele realmente não esperava por uma confissão daquele tipo. Mas, pelo menos, não me olhou com cara feia, o que já ajudava bastante.

- E agora não sei o que fazer. Ele disse que estava pensando em terminar com a namorada, mas postou uma foto no Snap que parecia estar assistindo filme com ela e não falou mais comigo no Whats – encerrei meu relato. A essas alturas a comida já tinha chegado, mas nenhum dois estava ligando muito para ela.

- Uaauu! Agora entendo porque a Melissa que ser coach de jovens. Vocês realmente passam por muitos desafios nessa idade – ele parecia impressionado – Não me diga que tem mais coisa?

- Na verdade, tem – abri um sorriso amarelo.

- Nossa! Isso está parecendo uma montanha-russa – ele comentou antes de levar o garfo de comida até a boca. Depois mexeu as mãos, pedindo que eu continuasse.

- Bom, ficar uma semana sem ir para a escola complicou bastante minha situação no colégio. Além disso, tem minha mãe que não fala mais comigo e a falta do balé. Quer dizer, não que eu queira continuar dançando, mas sinto falta de fazer alguma coisa. O problema é que fiz balé a vida inteira. Não tem mais nada que eu saiba fazer – coloquei tudo para fora, me sentindo um pouco mais leve.

- E ainda tem a mudança para Nova York, não é mesmo? Afinal de contas, não é por isso que estou aqui? – meu pai emendou.

- Verdade! Ainda preciso decidir se vou fazer faculdade ou vou morar com você – concordei, me lembrando da velha expressão que diz “sempre dá pra piorar” – Sei lá, às vezes é como se eu sentisse que estou me afogando, sabe? Preciso lutar para ficar na superfície e aí acabo me apegando a qualquer coisa que me impeça de afundar, entende?

Ele parou um instante para pensar, deixando seu olhar vagar pelo local - Foi uma boa analogia – mexeu a cabeça, concordando – Vou voltar a dizer: você precisa saber para onde quer ir. Aproveitando o gancho do seu exemplo, é como ter um porto para onde ir. Quando você percebe que está começando a afundar, se esforça para chegar até lá, entende?

- Hum... entendo! Mas como saber qual é o meu porto seguro? – fiquei interessada no assunto.

- Uma pessoa pode ter muitos portos. Família, amigos, trabalho que ame, hobby... Mas só você pode descobrir quais são. O jeito é ir nadando até encontrar um lugar bacana para ficar – explicou, servindo-se de um pouco mais de peixe.

Olhei para ele com cara de “sério mesmo?”. Eu achando que meu pai iria me dar uma super ajuda e vem ele com aqueles conselhos de meia tigela.

- Então eu tenho que ir nadando... – repeti com a voz contrariada – Tipo Dory do “Procurando Nemo”. “Continue a nadar, continue a nadar, para achar a solução, continue a nadar...” – cantei com uma voz irritante.

- É bem por aí. E quando achar o seu porto, ou os seus portos, cuide bem dele. Seja grata pela conquista. Olhe para trás e veja que a jornada valeu a pena – emendou, parecendo o Mestre dos Magos.

- Tá, mas e o que fazer quando eu não conseguir “nadar”? – aquele era o meu principal problema nos últimos tempos.

- Fácil. Quando a onda vir forte demais, não adianta nadar contra. O melhor é aproveitá-la e surfar, entendeu? – lançou mais um enigma, aparentemente se divertindo muito com a minha situação.

- Surfar? – repeti, sem acreditar no que estava ouvindo. Meu pai, que eu tinha acabado de descobrir que era um super coach com não sei quantos livros publicados, estava mesmo me dando um conselho daqueles?

- A vida não precisa ser tão complicada, Gabriela. É só se lembrar de nadar a favor da maré e, quando estiver muito difícil, correr para os portos seguros – reafirmou com tom solene.

- Surfar com a onda e achar os portos seguros – repeti, já mais conformada. Pelo visto, daquele “mato não ia sair coelho”.

- Fica tranquila, filha. Você não vai estar sozinha nisso. Tem o Alê, que adora você, a Mel que estará à disposição para ajudá-la no que for preciso e eu também estarei ao seu lado, mesmo de longe – ele estendeu a mão sobre a mesa e me ofereceu um sorriso carinhoso – Vai dar tudo certo, tenho certeza.

Retribuí o seu gesto e ficamos de mãos dadas por um tempo sem falar nada. Era estranho como uma pessoa que eu mal conhecia tinha o poder de me deixar mais tranquila.

- Hããã... falando em Melissa – aproveitei o momento para emendar o assunto – acho que vocês formariam um belo casal. E o Alê também acha – fiz questão de enfatizar.

Toda a pose de homem sério e confiante que o Mário Sérgio mantinha foi por água abaixo. Ele mexeu as mãos, sem jeito, e gaguejou para começar a falar - Eeeer... Ela é uma mulher incrível. E linda, é claro – fez uma pausa para alisar a camisa, o que me fez rir – Mas acho que ela deixou bem claro que não se mudaria para Nova York. E preciso ser sincero: não está nos meus planos ficar no Brasil de forma definitiva.

- Alguma chance disso acontecer um dia? – arrisquei, descobrindo dentro de mim uma vontade de ter uma família que eu desconhecia até então.

- Bom, a única razão seria você. Se continuar se afogando, não hesitarei em vir salvá-la.

A declaração me pegou completamente desprevenida. Não sabia o que falar ou que fazer. Fiquei parada, olhando para meu pai, me perguntando se ele realmente seria capaz de fazer aquilo por mim. Preferi acreditar que sim. Talvez eu tivesse acabado de descobrir um porto seguro, afinal.

***
Durante o resto do almoço conversamos sobre a vida em Nova York e o trabalho do meu pai. Ele comentou que não ficava muito em casa, pois estava sempre em conferências ou em visitas a clientes. Disse que havia um ótimo quarto de hóspedes na sua casa que poderia ser facilmente adaptado para me receber, caso eu realmente desejasse me mudar.

Depois que ele me deixou em casa e se despediu, corri pegar o celular para mandar uma mensagem para o Alê.

“Mário Sérgio disse que adorou sua mãe e que ficaria no Brasil caso eu precisasse dele. Se dona Melissa não vai a Nova York, meu pai vem até ela ;)”.

Pessoas como o Alê tinham um lugar cativo no meu coração porque sempre respondiam o WhattsApp rapidamente.

“Então já temos o elo que estávamos procurando: você. É só continuar sendo rebelde que vamos conseguir juntar os dois rapidinho. E não desista assim, tão cedo, das nossas férias em Nova York. Ainda tenho esperanças”.

Subi para o meu quarto rindo com a resposta do skatista. Da onde será que ele tirava essas ideias?
Sentei na cadeira da escrivaninha e já estava me preparando para respondê-lo quando chegou uma mensagem do Caio.

“Sábado vai rolar minha festa de aniversário na minha casa. Estou te esperando,hein?”.

Assim que li a mensagem, imediatamente a imagem do Léo de mãos dadas comigo me veio à cabeça. Se ele realmente terminasse com a Vanessa, não precisaríamos mais nos esconder e poderíamos aproveitar a festa juntos.

E o melhor de tudo: a Carol e a Mari provavelmente também estariam lá. Essa sim seria a chance perfeita para dar o troco nelas com o bônus de não precisar passar vergonha na frente da escola inteira – de novo.

“Só me falar local e horário que estarei lá”.

Confirmei minha presença. Essa festa com certeza ia dar muito o que falar.
___________________________________
Notas finais: Uiiii, vai rolar festa! A-DO-RO capítulo que tem festa. Já sabem, né? Vem aí muita confusão, babados e gritaria (bem do jeito que a gente gosta, né?)

Beijo na testa, até o próximo cap!


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